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domingo, 24 de fevereiro de 2013

lembro que não tinha som ---

e no entanto, os corpos iam. dançavam, giravam, se batiam e se debatiam e de novo se colavam. mesmo distantes, os corpos dos atores se precisavam, se pediam e se machucavam. existe algo nessa dramaturgia que clama à necessidade de um ao outro. é uma cola, é invisível, mas puxa, prende e machuca. é uma fixação que não ouve, que só fala, que só grita e cospe e sacode. necessidade e fixação. fixação é algo tão morto. tão fadado ao descontentamento. lembro que não tinha trilha sonora a nossa montagem de paso de dos, mas que no entanto dançavam os dois atores. eles dançavam o vazio do silêncio.

e agora, josé? eu sei lá, eu sei lá. talvez quisesse que desse vez a dança estivesse mais presente. mas sei que isso é papo, porque não preciso ter dança para dizer teatro-dança. não preciso ter aula de dança contemporânea para mexer os corpos em cena. existe uma coisa que se chama não intencionar. talvez essa seja a principal ferramenta conquistada como diretor em alguns anos de experiência junto ao teatro inominável. sem exceder dentes, como costumo dizer, é preciso deixar que se aflore as vontades, os desejos e as manifestações de afeto. o projeto vai se dizendo e se moldando, desde que se escute sua fome.

por isso, a coisa de dançar é preciso deixar solta, perdida, sem dar a devida atenção. com o tempo, a dança vem e fica. a coisa vem e se crava. sem anteceder desejos, uma peça de teatro é menos vontade e mais contexto. eu aqui me espremendo - de leve - para, aos poucos, voltar aos projetos já feitos, mas como fênix, renascendo das cinzas. não dois. em breve, daqui a pouco, já já.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

poema verbal ---


eu aqui me perguntando qual seria o tipo de dramaturgia de não dois. é só porque nos outros espetáculos do teatro inominável, nossa investigação vai burilando um tipo específico de dramaturgia, mesmo que inventada, que parece sustentar o projeto. em miranda, nosso segundo espetáculo, estamos espreitando uma dramaturgia chamada de dramaturgia do acontecimento. em dragão, nosso terceiro espetáculo, buscamos uma dramaturgia da situação. e em sinfonia sonho, última peça criada, poderia dizer que investigamos uma dramatorgia.

mas e em não dois? o que é neste trabalho que se esconde dentro dele próprio e que não nos deixa percebê-lo? acontecimento e situação. nas outras peças. e nesta? eu começo a intuir, talvez, não sei, mas há algo que tange à imobilidade. não dois seria um drama estático a partir do momento que já acontecido. eu quero dizer, o diálogo entre ele e ela parece não ser presente. parece que eles estão o tempo todo falando sobre algo já ido, já acontecido. algo imóvel, posto fora do tempo e do espaço. tem uma fantasmagoria que me interessa, tem a tal da assepsia.

é inevitável não reencontrar certas palavras, certas opiniões já percorridas na montagem original. não há interesse direto em se afastar, o interesse agora é basicamente responder - novamente - com sinceridade, aos convites que o texto de eduardo pavlovsky (paso de dos) poderá nos fazer quando reunidos estivermos ao seu redor.

deixo uma colagem de falas da personagem ela Eu pergunto se haveria algum tipo de convicção, pelo menos nos primeiros tempos, quando nos conhecemos, nos começos. Ideias, simplesmente ideias. Pelo menos para distinguir o verdadeiro do falso. Para saber se o que você fazia tinha algum sentido, por exemplo.

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