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sábado, 20 de agosto de 2011

# 43

20 de agosto de 2011, Quarto de Natássia, 20h/22h30diogo, natássia e dan.

temos uma apresentação marcada para 23 de setembro, dentro de um festival na unirio, aqui no rio de janeiro.

ESPAÇO DO DELÍRIO + TEMPO DILATADO
Nat perguntou qual é o ponto de vista da peça. Eu disse que o ponto de vista é aquele composto por quatro câmeras de segurança, monocromáticas, quase sem áudio…; Transparece a coisa do horror e afeta, ao cambiarmos as direções, os pontos de vista das câmeras. Nat diz que é real apenas o movimento.
O ponto de vista externo é móvel e por comportar vários pontos de vista. No final do espetáculo, o ponto de vista que emerge é o d’ELA.

Prólogo > UM FIO PRA SEGUIR.
ELA > no prólogo ELE tá num fluxo de pensamentos, acontecimentos, imagens, recordações, é uma mistura de quase tudo que vai depois aparecer com mais clareza durante a peça. é uma expurgação. um fio para seguir, nesse sentido, é quase como a possibilidade, pensando no registro, é como se tivesse colocando tudo muito rápido, como se tivesse passando rápido tudo. todo o registro embaralhado e um fio para seguir é a possibilidade de ordenar tudo isso. nunca é só um olhar externo é uma tentativa de reconstrução.
ELE > porque ele está no fim da linha, já não há mais para onde seguir e o embuste que ele arruma pra si mesmo, a desculpa ou a fuga que ele consegue desse lugar de onde não se pode fugir é justamente ficar preenchendo esse tempo com ações. na verdade, não, preenchendo esse tempo com a ação principal de falar. por isso é um fio. é vazio. um palavrório. a descrição de ações. basicamente, esse é o fio. que ele se agarra na ilusão de estar seguindo para algum lugar. ponto final.

Primeiro Movimento > SIMULAÇÃO.
ELA > pegando pelo texto é porque ela descobre que tudo foi, é como se tudo tivesse sido forjado. não importa as minhas respostas, importa como você formula as suas perguntas. é a descoberta da estrutura, do dispositivo, do molde. a descoberta da forma. descoberta de que aquilo é uma mera reprodução. ela é memória, ela é movimento. é reprodução pra ambos. ele também é, memória, nesse sentido. aquilo é um dispositivo e é na verdade um… não sei. pode se dar em várias camadas. tem a camada do lugar, se a gente pensar na ação presente, tem o lugar do calculado e da mise-en-scene do momento. tem o lugar do se perceber registro e memória. nesse sentido, os dois não podem fugir do que já passou. a gente modifica o que aconteceu pelas intenções. é simulação porque é como se fossem várias camadas, um olhar externo pro que já aconteceu e a percepção de que ela é só um dispositivo. num lugar presente, é um lugar de manipulação dele, de indução… do forjar uma relação. o desespero todo é estar presa nisso, nesse forjar. não interessa o papel dela ali.
ELE > bom, eu não sei dizer especificamente, mas acho que em todo o movimento da peça e na história dele, nessa história a simulação sempre esteve presente. esses encontros onde ele buscava arrancar dela alguma verdade. ele usava esse artifício da simulação pra simular coisas, simular afetos, simular… e ai, nesse momento do primeiro movimento, é, eles falam sobre isso. que só pra ele era uma simulação. porque eles estão revisitando essas visitas. ele, pra mantê-la perto dele, para mantê-la subjugada, dando sentido à existência dele. e ela pra, ainda que morta, não entregar a ele o que ele durante a vida quis arrancar dela, que é justamente a palavra, o nome.

Segundo Movimento > MEMÓRIA
ELA > é memória porque simples, muito simples, é o momento da peça em que ações são reveladas, momentos são revelados e não necessariamente uma memória real, existencial, talvez inclusive uma memória inventada. quase que as coisas são, a relação dos dois é embasada, justificada. é um momento, quase, em que eles são, eles se tornam existentes. é uma tentativa de dar existência para os dois.
ela tem o entendimento de que está morta. é uma libertação desse dispositivo.
ELE > coisa muito simples. bom, há esse dado onde ele faz um relato de uma memória, da infância, talvez tenha sido uma das simulações, uma das aproximações que ele usou pra se tornar mais íntimo dela. é o momento da peça onde a figura dela surge novamente pra ele. onde ela descola da estortura e passa a viver, ali, na frente dele, falar com ele. isso tudo faz parte da memória dele.

Terceiro Movimento > TORTURA
ELA > esse movimento é uma tortura que ela faz nele, com ele. é o movimento das repetições. é como se fosse um registro, ele tá voltando, voltando, voltando pra buscar alguma coisa ali. se é memória, ele tá lembrando, lembrando. jogando com esse lugar. é uma tentativa dele de saber alguma coisa, é um interrogatório: ele quer os nomes e ela dá um monte de nome que não significa nada. é quando a partitura realmente começa. ela é uma partitura de manipulação dele. essa repetição da partitura é quase um lugar de tortura. ela tá torturando ele: é uma repetição de memória. a leittura é a tortura dele. ele tentando descobrir e ela tentando se esquivar dele. repetindo, repetindo para buscar brechas e nada se acha.
ela descobre que depende dela. que ela tem o poder. ela descobre que ele tá querendo tirar alguma coisa dela. o terceiro movimento é quando ela descobre a importância dela e ai ela manipula.
ELE > não é uma tortura pra ele. mas, no terceiro movimento, os dois simulam, revisitam, apresentam esse lugar da tortura. esses encontros onde ele através da violência buscava tirar informações dela. essa tortura é mostrada de maneira simbólica no sentido de que, apesar de ele ser o torturador, ela joga com ele, inventa nomes. quem quem ela ele quem ele quem ela: é  um desenho do que significava a tortura em si. desenhou-se o símbolo de brincar com ele, de não falar. um desenho, uma expressão poética do que seria essa tortura. e não a tortura em si porque ela é um corpo morto.

Quarto Movimento > INTENSIDADE
ELA > porque esse movimento é quase um desespero de onde a palavra chegou. palavras que crescem quando juntos. é quase o nível de especulação da palavra deturpou muita coisa e levou muito entendimento. eu cheguei desesperada por conta de tudo o que foi especulado até então e ver que nada se encaixou. e que na verdade querendo… ela tem esse lugar do entendimento. não sei se é o ápice dela. não é o ápice dela. ela tá entendendo o lugar de intensidade que chegou. ela tá nesse nível. ela tá na intensidade de vibração que é quase apática. é muito intenso mas não transborda. não é tão externalizado como ele, que tá vibrando pra fora. é tanta especulação que já não se sabe mais nada, é difícil voltar ao início. tamanha foram as memórias, as simulações e as torturas. 
ELE > porque é no quarto movimento que ele se descontrola. o descontrole dele era interno e havia uma tentativa de controle. ele se enraivece. fica puto da vida. perde o controle. ele grita, ele esbraveja, ele sai da partitura e ao final do quarto movimento, ele desiste. ele cai. ele se deixa cair. ele tomba. ele já não… ele só vai levantar dali escalando ela.
a desistência é um abandonar da intensidade. ele buscava a intensidade. a intensidade do encontro era o que valia cada encontro. a intensidade está na violência do encontro. a intensidade é esse misto de horror e de afeto que foi se criando e desenvolvendo entre esses dois seres.
a visão dela aparece quando ele desiste.

Epílogo > CENOGRAFIA DO ACONTECIMENTO.
ELA > cara, eu não sei se ele vira a cenografia do acontecimento. acho que o epílogo evidencia a cenografia do acontecimento. o epílogo evidencia esta cenografia ao mostrar o ponto de vista dela na mesma partitura que o ponto de vista dele aparece. a partir do momento que ele mostra o ponto de vista dela nesses mesmos movimentos, você evidencia a cenografia do acontecimento. no sentido de que o acontecimento é aquele, os movimentos são aqueles. só se pode ter certeza daquilo.
a cenografia é a materialidade. a cenografia do acontecimento é a materialidade dos movimentos, das ações, independente das ações. independente dos sentidos.
o que fica é a imagem. o que fica é pensamento. a cenografia são as imagens que são formadas. são os corpos. é a única certeza.
ELE > muito simples, porque tá escuro. o acontecimento é a morte. a morte, se bem me lembro, é escura. quando a pessoa morre é escuro. o que acontece: a coisa começa na penumbra. a cenografia é o escuro. vem uma luz que remete ao corpo dela, que é a coisa mais material e verdadeira que tem ali. o acontecido foi esse.

próximo ensaio: sábado, 27 de agosto, de 10h às 14h, na UNIRIO.

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# 42

04 de novembro de 2010 – Unirio 17h/20h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

passadão. refizemos o final do espetáculo. natássia entende que ELA (quando aceita a própria morte) consegue abandonar seu próprio corpo.

este relato de ensaio está sendo postado meses depois. disse a frase acima para a nat e ela me perguntou foi é?

vamos começar o nosso ensaio número 43.

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# 41

02 de novembro de 2010 – Rampa 09h30/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

ensaio para sondar o espaço. ele tem nome: dojo. o chão é feito tatame. é neste espaço que iremos nos apresentar. este relatório de ensaio está sendo postado muito tempo depois do próprio ensaio.

pensando sobre algum gráfico crescente, progressivo, mais acentuado do que a estrutura já conhecida. como ir intensificando aos poucos a parada? o drama?

tentativas.

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