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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sobre aprisionamento(s)

Tentarei relatar um pouco sobre a experiência que foi apresentar NÃO DOIS na Penitenciária Feminina Tavalera Bruce, em Bangu. Nossa presença aconteceu dentro do projeto Teatro na Prisão, desenvolvido dentro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Na terça-feira dia quatro de outubro, por volta de 10h começávamos a apresentar nosso espetáculo, rodeados por cerca de cinquenta mulheres e mais uma dezena de profissionais (dentre eles diretora e vice-diretora da prisão, além de coordenadoras e professoras da Escola na qual boa parte das detentas assistem aula).

Fomos até a prisão numa van, da própria Unirio. Ao chegar, deixamos dentro do automóvel tudo o que não fosse estritamente necessário a execução da peça. Deixei minha mochila, carteira, chaves de casa, celular, moedas. Entrei somente com a roupa do corpo (que não podia ser de algumas cores específicas) e com a carteira de identidade. Levamos o cenário nós mesmos, cruzando os corredores da penitenciária e cumprimentando as inúmeras mulheres que ali trabalhavam. Poucos homens ocupavam o espaço. Os dois seguranças da porta de entrada e, fora estes, sobrava eu, o ator Dan Marins e um estagiário do projeto Teatro na Prisão.

Entramos, depois de muitos corredores, num auditório. Um espaço sujo, com cheiro de fezes, completamente empoeirado, no qual já estavam dispostas algumas dezenas de cadeiras plásticas, brancas. Havia um palco, cerca de oitenta centímetros acima do chão onde a audiência ficaria. Optamos por realizar a apresentação no mesmo “andar” que o das mulheres que nos assistiriam. Recortei a área cênica com uma fita crepe, criando uma área de 6m de largura por 5m de comprimento. Posicionamos as cadeiras tanta na frente desta área como nas duas laterais, preservando a parede dos fundos.

Não tivemos muito tempo. A segurança, responsável pela porta do auditório, solicitava que deixássemos as mulheres entrar, por conta da algomeração que havia se criado do lado de fora. Os atores rapidamente trocaram suas roupas. Quando entramos na prisão, fomos abordados por conta de uma calça masculina preta. É esse o figurino de Dan, porém, é também a cor e a vestimenta características dos seguranças. Logo, fomos avisados de que deveríamos voltar com a calça, que isso seria revistado quando voltássemos.

Mal os atores se posicionaram no espaço e as mulheres começaram a entrar no espaço. Foi curioso, entraram com certa urgência, se posicionando nas cadeiras e no chão. Por um segundo me assustei, porque a maioria entrou na sala com as mãos para trás. Achei que estivessem algemadas, mas não. Era apenas algum comportamento “aprendido” ali dentro. Elas andavam com as mãos para trás naturalmente. E eu olhando todas aquelas mulheres e tentando medir, de alguma forma, o que nos separava. Qual horror, ou acontecimento, que as fazia prisioneiras daquele lugar. Enfim, não posso esconder que fiquei surpreso ao não encontrar nada. Busquei seus olhos e o clichê da instituição prisão aos poucos foi perdendo força e cor. Não que eu não soubesse disso, mas eram mulheres, antes de tudo, eram pessoas.

Muito barulho. Falatório. A coordenadora do projeto disse algumas palavras, agradecendo a presença de todas as presidiárias. Em seguida, fui eu quem pontuei algumas coisas. Falei que apresentaríamos o espetáculo NÃO DOIS. Informei que a duração era de aproximadamente quarenta minutos e que no fim, se possível, gostaria muitíssimo de conversar, bater um papo, ouvir e falar sobre aquilo que dentre em pouco assistiríamos. Pedi a todas o máximo de silêncio, para que pudéssemos ouvir tudo e, em silêncio, me repreendi por tê-las pedido – mais uma vez – silêncio.

Não sei exatamente o que esse texto quer dizer. Não me preocupo. Meus pré-conceitos devem estar saltando e aparecendo. Tudo bem. A experiência vivida com esta apresentação faliu muitas coisas, muitas noções, muitos sentidos. Durante a apresentação, era nítido que os atores (Dan e Natássia) tentavam, por vezes, falar mais alto, puxando a atenção de volta a cena. Foi curioso ouvir risadas, comentários sobre a primeira cena. Foi curioso ver mãos nas bocas, olhares perplexos lançados para lá e para cá. Achei que a peça, de fato, não as pudesse interessar, mas era cedo demais para pensar qualquer coisa. Me contentei em assistir ao espetáculo.

A nossa estrutura geral do espetáculo foi simplificada. Era um auditório completamente iluminado por inúmeras janelas que não puderam ser cobertas. A escuridão, tão necessária ao espetáculo, se perdeu. As luminárias, nem chegaram a entrar na penitenciária. Eram apenas os atores dentro de um área demarcada. E eu pensando sobre essencialidade. Eu pensando em espetacularização e por ai vai.

Algumas mulheres foram ao banheiro. Outras estavam muito atentas. O texto de Pavlovsky, completamente rebuscado ou, nem isso, apenas recheado de palavras pouco usuais, causava aproximações e afastamento. Eu nem vi a peça. Eu vi seus olhos. Eu ali me sentindo um cara estranho, errado, tentando ler nos olhos daquelas mulheres alguma coisa. Era tão especial tudo aquilo. E os olhos sempre dizem mais do que dizemos.

Pensei de novo em encontro. Pensei mesmo. Eu pensei um pouco mais sobre o que significa levar a uma prisão uma peça que fala de aprisionamento, que fala de violêncio contra a mulher, que fala de morte e dependência. Uma peça que fala de sobrevivência, vingança, temas que até então me eram temas e nem tanto acontecimento. Temas como conceitos. Vazios de jogo, de corpo e tudo mais. Apenas ideias. Ali, alguma coisa foi tornando as palavras mais densas do que eram. Os corpos dos atores, atritando, se batendo, a cena – aquele artificial todo – foi ficando mais grave, mais leve, ficando mutante e respirando.

Talvez você que lê este texto esteja me achando muito romântico, apaixonado ou coisa assim. Tudo bem. Eu talvez esteja embriagado pela força que este encontro abriu. Eu pensando sobre pontos de vista. Sobre quais pontos de vista aquelas mulheres miravam aquele objeto, aquela cena. A violência do personagem masculino sobre a feminina foi se intensificando. E um pouco mais. E a sedução ao mesmo tempo crescente. E algumas mulehres reagiam com palavras, gritos, reagiam com selar de mãos e braços, entre elas. Quando o espetáculo chegou ao fim, com a personagem feminina “vencendo” a opressão masculina, foi algo como a redenção de todas. Vibravam e gritavam e, em seguida, muitas palmas. Enquanto eu pensava meu deus, eu não acho isso bom. Mas, importa o que eu acho?

Puxamos um bate-papo e pronto. Muitas falaram, as opiniões se multiplicaram e as certezas morreram, intranquilas. Fiz perguntas, fomos perguntados. Especulamos outras possibilidades. Contei alguns casos, detalhes da criação, falei do processo, do vestido de casamento da minha mãe. Ouvi daquelas mulheres coisas como “ela estava desde o início tramando uma vingança”; “a vilã é ela”; “isso tá acontecendo na cabeça dele”; “isso que vocês apresentaram é exatamente a realidade”; “eu vivi isso, durante dez anos”; “ela fez isso com medo de apanhar dele”… Em suma, nossa conversa ficou num entre vida e obra que nunca foi tão interessante. Falamos do aprisionamento, eu puxei um papo sobre o aprisonamente, eu ali logo em seguida me culpando por estar falando certas palavras. Mas, depois, confesso, eu pensei, que essas mulheres sabem o que era tudo aquilo. Falar de aprisonamento era como chover no molhado. Era redundante. Eu não deveria me exigir tanto cuidado, tanto zelo.

Foi papo franco e sem frescura. Algumas mulheres se emocionaram, começamos a falar de experiências pessoais e a “multiplicação dramática” de Eduardo Pavlovsky em plena ação. No final, muitos agradecimentos, abraços, apertos de mão. A coordenadora do projeto disse que esperava muito que as mulheres interessadas na aula de teatro (ministradas por estagiários) pudessem se inscrever. E, por conta do horário oferecido para tal aula (apenas dois dias, no turno da manhã), a diretora da prisão informou que as mulheres que estudassem de manhã, poderiam ir para a aula de teatro que ainda assim teriam sua presença (do colégio) contada da mesma forma.

Não sei mais o que escrever. Tenho a sensação de que ficarei ainda um tempo com tudo isso na cabeça. Esse texto é menos verdade e mais um relato (em palavras) daquilo que gostaria de registrar, para não correr o risco de esquecer a potência daquilo que chamamos ser nosso trabalho.

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

depois de alguns anos

é chegado o momento de apresentar NÃO DOIS numa penitenciária. durante muito tempo, desde o início do processo, este momento foi pensado, especulado, imaginado. qual será a força do espetáculo para homens e mulheres que estão aprisionados em celas?

não sei responder a nada. aguardo – ansioso – por este encontro. queremos muitíssimo dialogar ao fim da apresentação. queremos trocar. ouvir, falar. queremos encontrar. falar disso que nos toca a todos.

será uma única apresentação, numa penitenciária feminina. em parceria com o projeto “teatro da prisão”, o teatro inominável se lança a este novo lugar, completamente desconhecido.

 

flyer apresentacao penitenciaria copy

sábado, 20 de agosto de 2011

# 43

20 de agosto de 2011, Quarto de Natássia, 20h/22h30diogo, natássia e dan.

temos uma apresentação marcada para 23 de setembro, dentro de um festival na unirio, aqui no rio de janeiro.

ESPAÇO DO DELÍRIO + TEMPO DILATADO
Nat perguntou qual é o ponto de vista da peça. Eu disse que o ponto de vista é aquele composto por quatro câmeras de segurança, monocromáticas, quase sem áudio…; Transparece a coisa do horror e afeta, ao cambiarmos as direções, os pontos de vista das câmeras. Nat diz que é real apenas o movimento.
O ponto de vista externo é móvel e por comportar vários pontos de vista. No final do espetáculo, o ponto de vista que emerge é o d’ELA.

Prólogo > UM FIO PRA SEGUIR.
ELA > no prólogo ELE tá num fluxo de pensamentos, acontecimentos, imagens, recordações, é uma mistura de quase tudo que vai depois aparecer com mais clareza durante a peça. é uma expurgação. um fio para seguir, nesse sentido, é quase como a possibilidade, pensando no registro, é como se tivesse colocando tudo muito rápido, como se tivesse passando rápido tudo. todo o registro embaralhado e um fio para seguir é a possibilidade de ordenar tudo isso. nunca é só um olhar externo é uma tentativa de reconstrução.
ELE > porque ele está no fim da linha, já não há mais para onde seguir e o embuste que ele arruma pra si mesmo, a desculpa ou a fuga que ele consegue desse lugar de onde não se pode fugir é justamente ficar preenchendo esse tempo com ações. na verdade, não, preenchendo esse tempo com a ação principal de falar. por isso é um fio. é vazio. um palavrório. a descrição de ações. basicamente, esse é o fio. que ele se agarra na ilusão de estar seguindo para algum lugar. ponto final.

Primeiro Movimento > SIMULAÇÃO.
ELA > pegando pelo texto é porque ela descobre que tudo foi, é como se tudo tivesse sido forjado. não importa as minhas respostas, importa como você formula as suas perguntas. é a descoberta da estrutura, do dispositivo, do molde. a descoberta da forma. descoberta de que aquilo é uma mera reprodução. ela é memória, ela é movimento. é reprodução pra ambos. ele também é, memória, nesse sentido. aquilo é um dispositivo e é na verdade um… não sei. pode se dar em várias camadas. tem a camada do lugar, se a gente pensar na ação presente, tem o lugar do calculado e da mise-en-scene do momento. tem o lugar do se perceber registro e memória. nesse sentido, os dois não podem fugir do que já passou. a gente modifica o que aconteceu pelas intenções. é simulação porque é como se fossem várias camadas, um olhar externo pro que já aconteceu e a percepção de que ela é só um dispositivo. num lugar presente, é um lugar de manipulação dele, de indução… do forjar uma relação. o desespero todo é estar presa nisso, nesse forjar. não interessa o papel dela ali.
ELE > bom, eu não sei dizer especificamente, mas acho que em todo o movimento da peça e na história dele, nessa história a simulação sempre esteve presente. esses encontros onde ele buscava arrancar dela alguma verdade. ele usava esse artifício da simulação pra simular coisas, simular afetos, simular… e ai, nesse momento do primeiro movimento, é, eles falam sobre isso. que só pra ele era uma simulação. porque eles estão revisitando essas visitas. ele, pra mantê-la perto dele, para mantê-la subjugada, dando sentido à existência dele. e ela pra, ainda que morta, não entregar a ele o que ele durante a vida quis arrancar dela, que é justamente a palavra, o nome.

Segundo Movimento > MEMÓRIA
ELA > é memória porque simples, muito simples, é o momento da peça em que ações são reveladas, momentos são revelados e não necessariamente uma memória real, existencial, talvez inclusive uma memória inventada. quase que as coisas são, a relação dos dois é embasada, justificada. é um momento, quase, em que eles são, eles se tornam existentes. é uma tentativa de dar existência para os dois.
ela tem o entendimento de que está morta. é uma libertação desse dispositivo.
ELE > coisa muito simples. bom, há esse dado onde ele faz um relato de uma memória, da infância, talvez tenha sido uma das simulações, uma das aproximações que ele usou pra se tornar mais íntimo dela. é o momento da peça onde a figura dela surge novamente pra ele. onde ela descola da estortura e passa a viver, ali, na frente dele, falar com ele. isso tudo faz parte da memória dele.

Terceiro Movimento > TORTURA
ELA > esse movimento é uma tortura que ela faz nele, com ele. é o movimento das repetições. é como se fosse um registro, ele tá voltando, voltando, voltando pra buscar alguma coisa ali. se é memória, ele tá lembrando, lembrando. jogando com esse lugar. é uma tentativa dele de saber alguma coisa, é um interrogatório: ele quer os nomes e ela dá um monte de nome que não significa nada. é quando a partitura realmente começa. ela é uma partitura de manipulação dele. essa repetição da partitura é quase um lugar de tortura. ela tá torturando ele: é uma repetição de memória. a leittura é a tortura dele. ele tentando descobrir e ela tentando se esquivar dele. repetindo, repetindo para buscar brechas e nada se acha.
ela descobre que depende dela. que ela tem o poder. ela descobre que ele tá querendo tirar alguma coisa dela. o terceiro movimento é quando ela descobre a importância dela e ai ela manipula.
ELE > não é uma tortura pra ele. mas, no terceiro movimento, os dois simulam, revisitam, apresentam esse lugar da tortura. esses encontros onde ele através da violência buscava tirar informações dela. essa tortura é mostrada de maneira simbólica no sentido de que, apesar de ele ser o torturador, ela joga com ele, inventa nomes. quem quem ela ele quem ele quem ela: é  um desenho do que significava a tortura em si. desenhou-se o símbolo de brincar com ele, de não falar. um desenho, uma expressão poética do que seria essa tortura. e não a tortura em si porque ela é um corpo morto.

Quarto Movimento > INTENSIDADE
ELA > porque esse movimento é quase um desespero de onde a palavra chegou. palavras que crescem quando juntos. é quase o nível de especulação da palavra deturpou muita coisa e levou muito entendimento. eu cheguei desesperada por conta de tudo o que foi especulado até então e ver que nada se encaixou. e que na verdade querendo… ela tem esse lugar do entendimento. não sei se é o ápice dela. não é o ápice dela. ela tá entendendo o lugar de intensidade que chegou. ela tá nesse nível. ela tá na intensidade de vibração que é quase apática. é muito intenso mas não transborda. não é tão externalizado como ele, que tá vibrando pra fora. é tanta especulação que já não se sabe mais nada, é difícil voltar ao início. tamanha foram as memórias, as simulações e as torturas. 
ELE > porque é no quarto movimento que ele se descontrola. o descontrole dele era interno e havia uma tentativa de controle. ele se enraivece. fica puto da vida. perde o controle. ele grita, ele esbraveja, ele sai da partitura e ao final do quarto movimento, ele desiste. ele cai. ele se deixa cair. ele tomba. ele já não… ele só vai levantar dali escalando ela.
a desistência é um abandonar da intensidade. ele buscava a intensidade. a intensidade do encontro era o que valia cada encontro. a intensidade está na violência do encontro. a intensidade é esse misto de horror e de afeto que foi se criando e desenvolvendo entre esses dois seres.
a visão dela aparece quando ele desiste.

Epílogo > CENOGRAFIA DO ACONTECIMENTO.
ELA > cara, eu não sei se ele vira a cenografia do acontecimento. acho que o epílogo evidencia a cenografia do acontecimento. o epílogo evidencia esta cenografia ao mostrar o ponto de vista dela na mesma partitura que o ponto de vista dele aparece. a partir do momento que ele mostra o ponto de vista dela nesses mesmos movimentos, você evidencia a cenografia do acontecimento. no sentido de que o acontecimento é aquele, os movimentos são aqueles. só se pode ter certeza daquilo.
a cenografia é a materialidade. a cenografia do acontecimento é a materialidade dos movimentos, das ações, independente das ações. independente dos sentidos.
o que fica é a imagem. o que fica é pensamento. a cenografia são as imagens que são formadas. são os corpos. é a única certeza.
ELE > muito simples, porque tá escuro. o acontecimento é a morte. a morte, se bem me lembro, é escura. quando a pessoa morre é escuro. o que acontece: a coisa começa na penumbra. a cenografia é o escuro. vem uma luz que remete ao corpo dela, que é a coisa mais material e verdadeira que tem ali. o acontecido foi esse.

próximo ensaio: sábado, 27 de agosto, de 10h às 14h, na UNIRIO.

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# 42

04 de novembro de 2010 – Unirio 17h/20h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

passadão. refizemos o final do espetáculo. natássia entende que ELA (quando aceita a própria morte) consegue abandonar seu próprio corpo.

este relato de ensaio está sendo postado meses depois. disse a frase acima para a nat e ela me perguntou foi é?

vamos começar o nosso ensaio número 43.

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# 41

02 de novembro de 2010 – Rampa 09h30/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

ensaio para sondar o espaço. ele tem nome: dojo. o chão é feito tatame. é neste espaço que iremos nos apresentar. este relatório de ensaio está sendo postado muito tempo depois do próprio ensaio.

pensando sobre algum gráfico crescente, progressivo, mais acentuado do que a estrutura já conhecida. como ir intensificando aos poucos a parada? o drama?

tentativas.

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domingo, 17 de julho de 2011

para um futuro próximo

sábado, 16 de julho de 2011
café viena \\ diogo, natássia e dan

encontro para estreitarmos os desejos. para sondarmos o que queremos fazer com este filho primeiro. NÃO DOIS volta em setembro para uma apresentação dentro de um festival que está sendo produzido por quatro coletivos teatrais originados na UFRJ e UNIRIO.

agendamos alguns encontros e listamos as possibilidades que mais nos interessam: DAN falou de verborragia, de voltarmos usando o texto inteiro. NAT falou de dança, de sujeira a quebrar toda a nossa assepsia.

eu tentei pesar tudo isso porque, de fato, teríamos poucos encontros até setembro. ou seja, um esforço para total reconstrução da coisa não caberia. então, optamos por investir na sujeira, porque ela sugere um transbordamento tanto do verbo (levando à verborragia), quando da partitura (sugerindo à dança).

listamos algumas ferramentas usadas durante o processo: trabalho com composições, lembro agora o trabalho com revelações, além de repetição, duração, partitura e direção. será preciso retomar tais referências para articularmos, novamente, outras possibilidades.

fica a referência que vamos ver e estudar para o próximo encontro. a cena que havíamos falado sobre é justamente a do início do vídeo:


terça-feira, 28 de junho de 2011

A LEMBRANÇA DOS MOVIMENTOS

Especulações  datadas de 2008 sobre  o projeto.

Além da palavra, é claro, o apelo do texto ao corpo, às ações físicas, é extremamente importante. O que estariam os dois fazendo? As possibilidades são inúmeras e a experimentação nos ensaios irá sugerir de maneira mais consistente o que fazem. No entanto, já é nítido – a partir do título – que o exercício da repetição, do falhar e do tentar novamente, do sustentar o outro, da dupla agindo junta, enfim, fica bem sugerido que espaço é esse o da relação entre os dois, o espaço de ação da montagem.

Em termos de espaço, pretende-se uma montagem mais intimista, portanto, o espaço fechado é uma escolha já tomada. De acordo com os avanços dos ensaios, a possibilidade de inserir os atores numa arena é muito grande.

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O VAZIO DA PERDA DO SENTIDO

Especulações  datadas de 2008 sobre  o projeto.



“Por isso hoje só você e eu enfrentamos o vazio da perda do sentido, e isso é insuportável. Na minha memória só ficou disso tudo a lembrança dos movimentos”.

O nosso trabalho parte da palavra como geradora da relação. Ainda que nem sempre por ela consigamos assimilar tudo, é necessariamente pela palavra que nos deparamos com a falta de sentido. Por isso tantos diálogos quebrados, por isso tantas perguntas sem respostas e tanto texto fluindo de modo “desesperado”.

O trabalho com a palavra surge então como meio de construir uma assimilação de tudo o que está sendo dito, mas também, com o intuito de libertar, de instrumentalizar os atores com estas mesmas palavras. Para que os discursos dos personagens confundam-se com o depoimento dos atores, para que ganhem um tom de representação e de espontaneidade. Para que as palavras possam ser lembradas no instante em que são ditas. Para que pareça que a invenção acontece ali, naquele instante em que é dita.

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terça-feira, 14 de junho de 2011

SOBRE DETALHES E INTENSIDADES

Especulações  datadas de 2008 sobre  o projeto.

“Às vezes é tão fácil esquecer cada um dos detalhes, cada uma das intensidades, por isso acho que cada momento que repetimos se transforma numa verdadeira descoberta”.

PAS-DE-DEUX é uma peça argentina, de curta duração, escrita por Eduardo Pavlovsky. Traz dois personagens, ELE e ELA, num embate que a princípio não se pode entender facilmente o que é. No entanto, são os próprios que dão indício do caminho que escolheram percorrer. Ela diz num dado momento da peça cada momento que repetimos se transforma numa verdadeira descoberta.

Estariam os dois, então, repetindo seus momentos compartilhados? Revivendo o primeiro encontro, um ou outro caso passado juntos? Centrado na possessão como forma de controle, a peça apresenta o relacionamento entre um casal que não consegue se desvencilhar do passado, sendo escravizado por seus medos e limitações.

Mas aqui, palavras tornam-se perigosas na tentativa de descrever essa relação. Um nome pode destruir toda uma estrutura. Conforme Ele diz, Aqui há mistérios. E cabe a nós dar corpo a este jogo de intensidades e encontrar, nele, o jogo também das sutilezas, o jogo que se dá entre os detalhes.

O sugestivo título faz referência a uma coreografia de ballet clássico. O pas-de-deux é realizado em dupla e é composto por “pegadas”, onde um bailarino serve de suporte para uma bailarina, que executa passos e posições que só são possíveis em virtude da sustentação do parceiro.

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domingo, 29 de maio de 2011

GEOMETRY OF QUIET

GEOMETRY OF QUIET (2002) 03:20
CREDITS
Choreography: Trisha Brown
Music: Salvatore Sciarrino
Set Design: Trisha Brown
Costume Design: Christophe de Menil
Lighting Design: Jennifer Tipton
Flute: Mario Caroli

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Especulações sobre o corpo

EIKO & KOMA

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- ELA DORMINDO
- ELA DORMINDO E ELE A VENDO
- ELA DORMINDO E ELE A MANIPULANDO
- ELA DORMINDO E SE MANIPULANDO

A memória do movimento (do outro) no próprio corpo.

Nada a esconder, nada a mostrar;
Ser movido por um parceiro invisível (mobilizado e movido por uma outra pessoa e depois o trabalho segue só com a memória desse movimento);
Sonambolismo (dormir em pé – exemplo do metrô de Tóquio, que é muito comprimido. Fazer apoios de pé ou deitado);
Nunca a intencionalidade ou a objetividade é total;
Mostrar a pele mais fininha (aquela parte que os mosquitos mais gostam de morder);

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Diogo Liberano

domingo, 24 de abril de 2011

RESGATE

Como escrever isso que vou tentar agora? NÃO DOIS termina no exato instante em que percebemos que a existência de um acaba também quando a do outro acaba. Que final fatídico, que determinação quase grega, inexorável.

O amor talvez pudesse ser mais livre, eu penso agora, olhando para trás e vendo o atrás novamente agora ao meu lado. Sim, não precisa morrer, não precisa matar. Para além de tudo o que eu acho sobrevivem os corpos a se procurar. E é nessa toada que toda a ficção se recria. É no seu ir e no meu vir que as coisas todas se reescrevem e a inexatidão dessa inscrição é o que nos guia.

Sim, parece tudo muito solto, mas é como eu penso neste instante. São corpos que seguem vagando e vagar é desde já ação no tempo. Se ELA hoje se encontra só, se ELE morreu sem o seu corpo ali disponível (a todo e qualquer ato seu, a todo e qualquer soco ou beijo), bom, não podemos afirmar que isso seja um fim.

O fim é uma coisa que não existe, a princípio, pois o corpo sabe hoje bailar até mesmo a sua perdição. E então a Natássia posta esse vídeo com esse belo nome chamado ten duets on a theme of rescue. full. Talvez o full não fizesse parte, apesar de fazer todo o sensível. Quer dizer: dez duetos num tema sobre resgate. E isso tudo chega enfim ao fim por inteiro, por completo.

NÃO DOIS. Não mais dois, talvez. Não é número, talvez, hoje, mais do que nunca, seja sobre aprender a ser um e ser o outro. Seja sobre alguma outra coisa que não somente sobre impedimento. Que amor matamos ao teorizá-lo? Que terror resolvemos no verbo e não deixamos correr pelo corpo? O tema do resgate me sugere mais do que nunca tentar de novo. E talvez nisso encontraremos nossa vocação. E talvez nesse se purgue a existência e se colora de novo um novo horizonte.

Um novo chão. Uma nova cena. Dez novos duetos em composições mil. O fim só faz sentido se eu ver lado a ele a sua tentativa tenaz de um recomeço. Fim pelo fim a gente fica onde está e não se fala mais nisso. A nossa peça pode ser pessimista, mas ninguém sabe que dentro de nós – artistas – ainda batem três músculos involuntários.

Um documentário cênico, talvez. A ação do tempo. Mais meta impossível. Desenvolvimento. Minhas intuições estão lacradas, a espera de vocês, atores. Busquem-me, os dois, ao mesmo tempo. Para que possamos enfim conversar sobre o que, sendo nosso, anda de nós perdido e ao relento. Sim, a poesia por vezes coincide com a vida. O que fazer? Responder a altura. Responder a altura.

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Diogo Liberano

Körper by Sasha Waltz - Trailer



Mais uma inspiração para que possamos explodir o potencial da partitura.

ten duets on a theme of rescue . full

quarta-feira, 30 de março de 2011

Sobre aquilo que seduz

PASO DE DOS
Eduardo Pavlovsky
Tradução: Maria Angélica Keller de Almeida

ELE (enquanto fala deve realizar todos os movimentos sugeridos pelo texto) Olhando para a frente. Talvez de perfil. Agora olho na minha mão. Viro a cabeça para a direita, agora para a esquerda, posso olhar outras vezes para a frente. Pausa. Não. Tenho que fazer alguma coisa, golpeio meu joelho esquerdo. Me levanto. Me sento. Coço o nariz. Trato de que cada gesto tenha sentido, quer dizer, que adquira uma dimensão de espontaneidade. Não quero vazios. Olho para a frente, bruscamente para trás. Me agrada olhar um ponto fixo. Me sustenta. Lustrada de sapato nas calças. Necessito de mais atos. Uma boa massagem no pescoço, rotação de cabeça. Tudo como se fosse normal. O tempo se deteve. Um bocejo, outro bocejo, um leve sorriso, uma penteadinha, coçada na testa, batidinha de sapato no chão. Assobio. Assopro. Vou ao banheiro. Não estou com vontade. Volto. Me sinto bem. É preciso aprender a se sentir bem. Olho o teto. Como falta ainda, meu Deus! Lustro outra vez o sapato direito. Faço de conta que penso em algo concreto que me preocupa. Faço gestos de quem descobre alguma coisa. Assumo uma cara de safado. Imagino que me lembro de uma aventura amorosa. Imagino os lugares. Me distraio um momento. Volto ao vazio. Não! Quanto falta? Penso em minha mãe. Tento reter a imagem do rosto da minha mãe. Me lembro. Me coça o nariz. Deixo que me coce... para ganhar tempo enquanto me coço. Me coço um pouco. Me esfrego. Uma pausa depois de tanto esforço. Que fazer, meu Deus! Um pouco de esperança. Dura pouco. Agora, desesperança. Finjo que esqueço uma coisa e agora me lembro. Abro a boca. Fecho. Tusso. Tusso duas vezes. Tusso três vezes. Agora finjo que me sufoco. Faço de conta que me recupero. Como continuo? Quanto falta? Mudo a cadeira de lugar. Torno a mudar a cadeira de lugar. O tempo não passa. Me sento no chão. É bom sentar no chão, muito bom. Ando. Paro. Ando. Mexo os quadris. Sou homem. Sou mulher. Sou criança. Sou animal.
Que pretensioso! Um pouco de representação, um pouco de humor, de bom humor, de humor fino, de humor inglês.
Pausa. Pausa. Pausa. Comecemos outra vez. O que acontece se eu me deixo ficar? As imagens se detêm. As caras como imagens sem dimensões. Tudo plano. Talvez um pequeno discurso, ou melhor, um método, algum recurso que pudesse me distrair... Pausa. Quanto falta, meu Deus! Como demora... tudo isso demora muito... pensar eu não posso... já gastei o pensamento de sustentação... preciso de altos, ações...
A vida nos lança no vazio e nós dizemos no ar “vou por este caminho, escolho este outro, me equilibro entre aqui e ali”.
Bem que eu queria explicar os fatos, as circunstâncias desencadeantes, explicar as causas. Dizer: esta atitude eu posso explicar deste modo. Só posso dizer que sou absolutamente responsável por tudo, não me arrependo absolutamente de nada, minhas atitudes são a única coisa que faz algum sentido, um fio para seguir... Sou responsável por cada uma das minhas intensidades... isso é certo... absolutamente certo. Essa é minha certeza.
Qual era o problema? Agora o tempo modifica tudo, acho que o tempo modifica tudo.
[...]

Trecho inicial da peça. Essa dramaturgia que nunca cessa. Que só pede pede e nunca termina. Como pode? Caber tanto mistério dentro de um punhado de palavras? Dentro de apenas uma interrogação?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Depoimentos

Olá, Você

Este espaço do blog é destinado aos que assistiram ao espetáculo NÃO DOIS e que desejam deixar por escrito suas impressões sobre a peça, sobre qualquer ponto que lhes pareça conveniente, sobre o que para vocês foi bom, ruim, incrível, afetado... Ou mesmo sobre aquilo para o qual não há nome...


Teatro Inominável é desde já grato pela sua opinião aqui deixada e afirma o quanto ela nos é de extrema importância, justamente, por ser capaz de nos devolver um pouco sobre nós e, sobretudo, também um pouco sobre você, que nos assiste. E para quem destinamos tudo isso aqui...


Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2011
Diogo Liberano - diretor artístico do Teatro Inominável

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domingo, 16 de janeiro de 2011