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segunda-feira, 31 de maio de 2010

# 35


29 de maio de 2010 – Sala Paraíso (Teatro Carlos Gomes) – 14h/16h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

fico me perguntando como tornar o ator responsável por aquilo que deve fazer em cena? sabe, chega um dado momento que o diretor não precisa e nem pode mais ficar lembrando que certas coisas precisavam ter sido feitas. é estranho. porque se não fizeram, o que isso pode significar que não seja um mero esquecimento? às vezes as propostas que eu julgo essenciais ainda não encontraram nos atores a sua potência. a minha leitura as valida, mas a experiência de tal ação ou gesto às vezes ainda é vazia. isso é um problema?

dan fez uma linda pausa antes do primeiro movimento. perfeita. mudou tudo. percebi como essa peça tem mesmo algo de fantasmagórico que a marina vianna anunciou ao escrever a sua opinião sobre a peça. ela disse que a peça esbarra no onírico e no quase fantasmagórico. num dado momento do ensaio, percebi que a natássia surgia próxima ao dan como um fantasma mesmo, como uma existência não corpórea, algo que não sei explicar. a nat trouxe uma tensão maior para o interrogatório. já não consigo vê-la apenas debochando d'ELE. há algo ali forçosamente doloroso para ela.

como ficar na sugestão? que medo. a cada ensaio parece que a peça quer fazer um sentido explícito, quando desde sempre, ela funcionava bem sugerindo e abrindo possibilidades, não fechando. ah! difícil! mas vamos seguindo, vamos intuindo o que possa ser melhor.

4 ª PAREDE. não me lembro exatamente quando no processo estudamos e conversamos sobre isso. mas neste espetáculo a tal quarta parede existe. e é necessária. o espectador presencia um acontecimento fechado. ele é mesmo voyeur. sua presença é indiferente (enquanto dramaturgia). e determinante (enquanto reflexão). não rola  quebrar a tal parede. não rola.

os meninos trouxeram uma coisa boa ao término do quarto movimento. dan saculeja o corpo de natássia. ela está morta. e depois não está. aproveitei para começar a remarcar o final da peça. a brincar com a trajetória, a topografia desenhada pelo personagem masculino. o texto final da nat num tempo super esgarçado. e o dan num tempo prestíssimo.

mais tempo de escuridão. contra-luz. natássia ao chão.

acrescentei mais dois erros ao espetáculo: em um dado momento da encenação, tanto o dan quanto a nat terão que selecionar uma fala para errar. ou seja, vão começar a dar um texto e pular uma fala. vão voltar à fala e depois seguir, passando pela fala que havia sido antecipada. quero isso. pedi que ambos perfurassem a encenação cada qual num momento trazendo um erro. erro intencionado.

# 34


28 de maio de 2010 – Sala Paraíso (Teatro Carlos Gomes) – 11h/13h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

passadão. nossa peça é extremamente marcada. cada movimento tem seu tempo, cada ação sua duração específica. mas como encontrar algo novo em meio ao já sabido? como oxigenar as engrenagens? neste ensaio, por não lembrarem de algumas ações ou falas, por estarem assim como os personagens tentando lembrar dos movimentos e das falas, tentando lembrar das intensidade, surgiu aquilo que nomeio agora de GESTO-ERRO. tanto o dan quanto a natássia erraram ao mesmo tempo um gesto e o impediram de acontecer. ao mesmo tempo. logo, não foi um erro. foi uma espécie de movimento interrompido feito em simultâneo pelos dois. pedi aos dois que deixassem isso na peça. aos poucos a lógica do tentar lembrar, do se esforçar para lembrar dos gestos e das intenções, acaba tocando no âmbito da representação.

não apenas ELE  e ELA que tentam se lembrar dos acontecimentos. os atores também o fazem. neste dia, depois de um passadão e alguns ajustes, fizemos uma última passada para as meninas que atuam em GODOT, cujo ensaio aconteceria em seguida. dan disse perguntei o seu nome e você disse alguma coisa como frida kahlo. percebi nesse passadão como corremos o risco de querer dotar de sentido cada movimento que desde o início do processo foi apenas um movimento. é preciso continuar acreditando nessa secura do espetáculo. nessa falta de paixão como disse uma das atrizes de GODOT ao comentar sobre a cena.

teaser#01

sexta-feira, 28 de maio de 2010

um pouquinho mais sobre…

o que dizer sobre este espetáculo?

começou como conclusão de uma disciplina curricular do curso de Artes Cênicas: Direção Teatral da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – no qual sou aluno. cumpriu suas únicas três apresentações em dezembro de 2009 e agora volta para uma primeira temporada.

parte do texto PASO DE DOS do excelente dramaturgo argentino Eduardo Pavlovsky. o nome do espetáculo acabou se tornando NÃO DOIS, que por sua vez, surgiu de uma tradução do título em frânces da peça, PAS-DE-DEUX. o “pas” em francês é particula de negação. e a encenação que construímos parte de um esforço para quebrar a dicotomia que se instaura sob variadas formas e nos impede de ver a complexidade da vida, de entrar em contato com ela.

assim, esta encenãção apresenta uma relação entre um homem – ELE – e uma mulher – ELA. uma relação que chegou ao fim. parte da vontade de investigar a possibilidade do amor e do horror num mesmo gesto. tem a ver com pontos de vista. não desejamos dizer o que é e o que não é. mas sugerir, atentar para o fato de estarmos todos sujeitos a interpretações. atentar para o fato – sim, duro como pedra – de que não detemos em nós sentido algum.

o significado está no outro. e quando o outro acaba ou quando acabamos com o outro, eis que surge o silêncio. e o vazio. e assim o término das intensidades. da experiência de vida.

em cena, uma partitura que se repete inúmeras vezes pela dupla de atores. ora estão juntos, ora em separado. com variação de direção, ritmo, intenção. a partitura é o desenho dessa relação que hoje não existe mais. a partitura como tentativa de evocar pelo movimento a vida já perdida, acabada. o esforço da repetição.

termino essa postagem com um lindo trecho do espetáculo:

ELA Necessidade de te contar coisas, palavras que crescem quando juntos

apesar de você e de mim

apesar de nossa história sempre tão diferente, tão horrivelmente diferente

só crescem

não por você e por mim

brotam sempre palavras onde só deveria existir o grande Silêncio das gritarias

cresce a lembrança apesar dos dois

que estranho espaço teremos inventado

que às vezes não posso deixar de te falar malgrado minha vontade...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sala Paraíso – Teatro Carlos Gomes

a convite do teatro independente – www.teatroindependente.com.br – nós, do teatro inominável, faremos a nossa primeira temporada de NÃO DOIS na sala paraíso do teatro carlos gomes. um espaço super acolhedor e especial. com uma arquitetura toda diferencial e interessante. nessa primeira temporada, que começa já no primeiro final de semana de junho e vai até o final do mês, cumpriremos oito apresentações ao todo. nos sábados de junho às 19h e aos domingos, às 17h.

seguem algumas fotos do último ensaio – #33 – já na sala paraíso.

epílogo. cenografia do acontecimentoquarto movimento. intensidadeterceiro movimento. torturasegundo movimento. memória primeiro movimento. simulaçãoprólogo. um fio para seguir

# 33

22 de maio de 2010 – Sala Paraíso (Teatro Carlos Gomes) 15h/18h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

primeiro ensaio no espaço onde será nossa primeira temporada. tempo para apropriação, para descobrir como o tamanho da peça ali dentro, a intensidade das vozes, para redimensionar, fazer caber, tornar-se parte daquele lugar.

o ensaio começou com uma passada do espetáculo, que dura cerca de 35 minutos. com alguns acréscimos que acrecentaremos, acredito que a encenação ficará com uns 40 minutos de duração. mas não acrescentaremos nada até estarmos minimamente de volta ao ponto em que havíamos parado.

a passado foi boa, os meninos lembraram de quase tudo, faltando alguns movimentos e às vezes engasgando alguma fala. ficou clara a necessidade de transferir para outros lugares certos momentos da peça. após o passadão, ajustamos algumas coisas no espaço e investimos na busca de intenções e estados que precisam ser ainda mais desbravados.

sobre ELE, pedi ao dan que aumentasse o esforço da memória, do fazer lembrar. sobre ELA, pedi à natássia que investisse num movimento que antes de ser feito para atinger ELE, acaba por atingir ela própria. AFETO. num mesmo gesto.

o final do espetáculo definitivamente não funciona. para o ensaio seguinte, o qual os atores estarão sem mim, prepararei algumas indicações que lhes sirvam de mote para o desenvolvimento de um novo desfecho. que difícil tudo isso. deliciosamente difícil. quero fazer! quero ver!

# 32

08 de maio de 2010 – UNIRIO – 15h/18h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

ensaio importantíssimo para percebermos como muito havia sido esquecido. após este ensaio, foi preciso assistir à filmagem com intuito de relembrar marcas. um esforço desmedido para não mudar tudo aquilo que não acontecia porque apenas não era lembrado.

depois de meses afastado da prática desta peça, ela hoje me parece ser outra coisa que não apenas o que é. mas tenho me privado das mudanças. quero ver primeiro pelo outro e não por mim. olhar viciado. atestar pelo outro alguma leitura sobre este trabalho. já já.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Não - Lugar

O PISCAR ENTRE VIDA ENTRE MORTE

Os braços dele apertam seu pescoço, ela não consegue se soltar, o ar começa a escapar do seu pulmão, percebe sua vida se esvaindo e a única coisa que lhe resta é o milésimo de segundos entre o olho aberto e o olho fechado, entre a vida e a morte. Ainda não está morta, mas não há mais possibilidade de estar viva, ela está em suspensão, uma dádiva ou tormento, na qual vai refazer todos os seus passos até chegar ali, vai refazer sua vida, porém a sua dor. E esse momento de sobrevida ganha uma dimensão outra, não vistas pelos olhos vivos, uma dimensão que só pode ser sentida, percebida ou vivenciada por quem está nesse lugar do entre, entre a vida e a morte. Aqui o segundo vira uma eternidade de segundos, e neles ela vai reviver infinitamente a sua trajetória de morte, tentando recordar os seus passos, em silêncio, pois as palavras confundem e distorcem a realidade, e a única coisa que resta é a lembrança dos movimentos, sublinhado pelo o único som que importa: a música que nascia dos seus próprios corpos. Esse momento ecoa por toda a eternidade, numa busca da verdade, numa busca de entender onde ela perdeu o controle de sua vida, mas como nessa dimensão de sobrevida não há verdade nem mentira, ela padece. Esse milésimo de segundos é o purgatório, onde numa trajetória infinita e circular ela vai reviver a sua morte, até que finalmente seus olhos fechem.