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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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domingo, 6 de dezembro de 2009

# 29

29 de novembro de 2009 - S.404/UNIRIO - 10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. neste encontro fizemos apenas dois passadões e mais ajustes. a mesma idéia do ensaio anterior, responsabilizar os atores por aquilo que eles sabem que deve ser feito. as melhorias estavam ficando visíveis. trabalhamos as brigas de casal, por assim dizer;

. a natássia trouxe um tom mais grave para a voz, o que provocou uma guinada no todo, assustador. ela ficou menos frágil e o jogo ganhou mais em relação. pontuei ao dan alguns momentos em que o descontrole do personagem dele poderia aparecer, sob uma forma mais grave, mais gritada mesmo;

. depois destes ensaios de sábado e domingo, tive que ir para a faculdade finalizar o cenário, que não ficou pronto até o dia da apresentação.


# 28

28 de novembro de 2009 - S.407/UNIRIO - 10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. a partir dos comentários recebidos nos ensaios anteriores, selecionei aquilo que julguei ser mais essencial e trabalhei neste último fim de semana sobre estas mudanças;

. o ensaio deste sábado foi a partir de música. havia usado trilha em um ou dois ensaios e de forma bem comedida. neste ensaio, porém, começei fazendo um passadão com trilhas que eu ia colocando na hora. a idéia era que os meninos fosse jogando com aquilo que a música provocasse neles;

. dentre as trilhas, utilizei: OLDBOY, CIDADE DOS SONHOS, LAVOURA ARCAICA, GAIVOTA - TEMA PARA UM CONTO CURTO, MARIA BETHÂNIA e PEQUENA MISS SUNSHINE;

. passamos por cada movimento e ajustamos coisas específicas. fechamos o epílogo de forma mais acertada e precisa. o negócio era tornar os meninos responsáveis pela cena. tirar de mim a necessidade de ter que dizer que algo estava errado. eles deveriam saber disso, não mais eu. responsabilizar-se.


# 27

27 de novembro de 2009 - S.111/ECO/UFRJ - 18h30/22h
dan marins, diogo liberano, josé henrique moreira, júlia marini, marcellus ferreira, marina viaana, natássia vello e vinicius arneiro.

. ensaio cheio de gente amada e atenta. fizemos um passadão e, em seguida, aproveitei para ouvir os comentários dos professores orientadores (zé e marcellus) e depois, os comentários do amigo ator e diretor vinicius arneiro;

. ao término do passadão, algo ficou colado na minha cabeça. BRIGA DE CASAL. era o que estava faltando para NÃO DOIS. eu precisava orquestrar com eles essa possibilidade, tornar isso concreto. romper o balé das marcas e ganhar a relação. tudo estava muito tranquilo, muito controlado;

. dos comentários do professor José Henrique Moreira, ressalto:
. o zé também reconheceu isso da briga de casal e sugeriu que eu selecionasse trechos e os trabalhasse; sugeriu que eu cortasse alguns trechos e que tivesse clareza que em alguns momentos, algo precisa ser dito e algo é importante de ser ouvido; sugeriu também que num dado momento a fala ganhasse das partituras, que o texto ficasse maior, mais forte, mais descontrolado a ponto de pausar o movimento; sugeriu possibilidades várias para o movimento de abertura dos braços (no segundo movimento, quando natássia sai de dentro da estrutura falando trechos do texto do dan); me pediu que descentralizasse a partitura, que aproveitasse um pouco mais o espaço, como se eu devesse deslizar a partitura do centro, causando uma desestabilização; e me chamou atenção para o piso que eu planejava colar no chão. me disse que isso poderia ser problemático visto que os atores precisavam muito do atrito com o chão de madeira.
. depois, foi o vinicius que comentou algumas coisas, segue:
. achou que o prólogo deveria vir num crescente e não começar acelerado, mas ir se acelerando; sugeriu que tivéssemos clareza do sentido de cada repetição da partitura, para que valorizássemos a repetição e não caíssemos num jogo de meras repetições; chamou atenção para a respitação do dan e para a articulação e projeção da natássia; sugeriu que eu fizesse um desenho mais atento da partitura vocal dos atores. assim como havia uma partitura física, me sugeriu que eu desenhasse com eles uma partitura das falas, com as nuances marcadas na fala, reveladas pela fala; falou do gráfico do espetáculo; sugeriu que o monólogo do pai fosse dado apenas para o dan, visto que é memória, é algo que ele lembra; e por último, falou dos movimentos do espetáculo, que sugeriam DISTANCIAMENTO ou APROXIMAÇÃO DA NARRATIVA, chamando atenção com isso para o tempo e como o tempo era usado.
. entrei em contato com a verônica e ela topou fazer o projeto, mesmo tendo eu feito o convite tão em cima, como sempre. combinamos de trabalhar com os meninos a partir de segunda ou terça, para a estreia na quarta;

. neste dia também, a júlia já experimentou várias possibilidades modelando o corpo da natássia. comprei libes e meias-calça e ela desturpou todo o corpo dela, meio que manipulando os seios e apertando-os e os tirando de sua forma original. uma primeira tentativa. que só poderia ser terminada na terça-feira, um dia antes da estréia;

. a queridíssima marina vianna assistiu e anotou mil coisas, mas só conversaríamos depois.


# 26

26 de novembro de 2009 - S.505/UNIRIO - 22h/23h
dan marins, diogo liberano, júlia marini e natássia vello.

. a amiga atriz e figurinista júlia marini veio a assumir o figurino de NÃO DOIS apenas 6 dias antes da estreia. um crime, reconheço. mas ela foi tão rápida em tudo que é difícil acreditar. falei com ela na quarta e nesta quinta, dia 26/11, ela já havia conversado comigo, trocado mil idéias, proposto mil coisas e aproveitou para ver um passadão de 22h às 23h, na Unirio;

. ao ver o passadão, percebi como alguns textos ainda estavam muito duros e como o tom da natássia estava um pouco distante do que julgava necessário. a sua voz me soou, durante o ensaio, aguda demais, gritada, estrangulada;

. júlia pontuou coisas incríveis e foi quando percebi que ela havia sido a primeira pessoa "de fora do processo" (até então) a assistir um passadão. ela disse:
 . que o dan deveria investir mais em sua rispidez ao passo que natássia deveria investir mais no seu estado lânguido, quase morto;
. afirmou que ele precisava em certos momentos se mostrar realmente mais ameaçador, enquanto a natássia deveria estar atenta ao texto que era dado de costas para o público, porque não era audível;
. sugeriu que o monólogo do pai fosse dado para a platéia, para que não privássemos o espectador deste momento em que o personagem masculino se fragiliza;
. e pontuou a necessidade da natássia ficar atenta às suas mãos, que tivessem sempre ligadas, com energia.
 . ao término do ensaio, ficou explicitamente evidente a necessidade de uma preparação vocal instantânea. ligaria, sem duvida, para a amiga e excelente fonoaudióloga, Verônica Machado.


# 25

25 de novembro de 2009 - (UNIRIO) - 10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. neste encontro trabalhamos um pouco mais do prólogo e finalizamos uma primeira versão do epílogo, a partir do que dan e natássia tinham experimentado sozinhos no ensaio anterior. como sempre, trabalhamos primeiro a partitura e depois inserimos o texto, o que nos dava sempre uma alterada boa no texto, já que este ficava sambando no meio de tantos movimentos e ações;

. no epílogo, apostamos numa inversão de papéis. ELA começa a agir como se fosse ELE, logo, ELA passa a ser o agente da violência, enquanto ELE é o ser violentado. mais do que isso, também encontramos a simultaneidade de movimentos dos dois que de alguma forma pudessem dizer que ambos batiam e sofriam a violência. ELA/ELE atacando, ELA/ELE sofrendo o ataque;

. a natássia teve que começar a gerir sua força para que pudesse soar minimamente plausível a guinada de sua personagem. pedi ao dan que facilitasse o jogo um pouco, mas isso ainda não ajudou muito. ELA precisaria usar realmente sua força;
 
. o momento mais incrível é o descolamento d'ELA da partitura. ELE lança sua cabeça para o lado e é ELA quem a ergue de volta, sem sua ajuda, deixando a mão d'ELE parada. é o que marca a mudança de controle da situação.
 
 

sábado, 5 de dezembro de 2009

primeiras impressões

bom, encerrou-se a pequena temporada de três apresentações na UFRJ. nos apresentamos na quarta (02/12) às 18h e na quinta (03/12) às 17h e 19h. foram três apresentações muito parecidas. o espetáculo tem um pouco mais do que 30 minutos. vê-lo três vezes me fez pensar que talvez agora eu possa começar a compreender o que ele é. ou, talvez, o que ele pode vir a ser.

muitas intenções, muitas buscas, muitas tentativas só nas apresentações vieram a se concretizar. muito do que foi pedido aos atores durante o processo só veio no dia, mas veio tudo tão puro, tão genuíno, tão essencial. uma felicidade tamanha a minha, porque era visível que o nosso esforço de criar revelações também causava algo em quem assistia. não quero avaliar positivamente ou negativamente, mas sim expor um pouco do que vi. um pouco do que foi compartilhado. do que foi sentido.

o que mais ouvi sem dúvida foram comentários que esbarravam no vazio, na forma em como os personagens lidavam e falavam de algo que já passou, algo este impossível de ser revivido. me encontro então com a idéia inicial de não tentar expor o que foi, porque aquilo que foi já se acabou. e a peça (talvez a luz branca, excessivamente fria) foi se revelando mais com esse distanciamento, com essa emoção contida, quase seca, quase inexistente. senti uma peça de palavras, um longo poema de 30 minutos. quando os corpos começam a esquentar, tudo acaba. tudo se consome. também a liberdade. também a memória.

comentários variados. impressões variadas. todas sendo reunidas e conversadas. porque faz parte do processo. agora que nasceu, é preciso educar. mas não podando, não cortando. e sim aperfeiçoando, ensinando a caminhar sem minhas mãos. ensinando a se descobrir. ir permitindo o voo.



 



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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

pré... pós... tudo...

amanhã. digo, hoje, é a estreia de NÃO DOIS. é difícil dizer NÃO DOIS e não PAS-DE-DEUX. mas logo o trabalho já vai ter se apresentado a um público maior do que aquelas pessoas na sala de ensaio. e que venham várias apresentações. várias.

faltam muitas coisas. figurinos, detalhes, cenário, cenário, cenário. acabei de finalizar os acabamentos nos refletores. e a sensação de que falta tudo ainda é grande. daqui a algumas horas vou acordar e ir para a ECO esperar o cara responsável por desenvolver a estrutura, ou, ESTORTURA. ela foi feita com um erro. está 20cm a menos do que precisamos. ou seja, leva de volta e vamos consertar.

vamos indo que a coisa acabou de começar...
.

# 24

24 de novembro de 2009 - (UNIRIO) - 20h/23h
dan marins e natássia vello.

. eles ensaiaram sozinhos. mais uma vez, não conseguiram cumprir com as solicitações. mas fizeram algo que eu trabalhei no ensaio seguinte. pedi que fizessem uma composição para o EPÍLOGO: A CENOGRAFIA DO ACONTECIMENTO. deveriam se pautar em:

. usar o texto do epílogo;
. ter no máximo 3 minutos de cena;
. propor uma inversão da sequência de movimentos (ELA age como ELE e ELE como se fosse ELA).

. segue-o:
EPÍLOGO. Cenografia do acontecimento

ELA Lá, nas nossas intensidades, focos de luz deformando nossos rostos, a maca em posição inverossímil, a eletricidade e seu protagonismo, as pancadas secas, algodões e o cheiro de sangue coagulado, desafio aos limites de hoje e um pouco mais, os suores frios, a morte espreitando, a música que parecia nascer dos nossos próprios corpos. Nos enganamos quando pensamos que nós é que gerávamos as paixões e a energia, porque quando todo o dispositivo desaparece nos encontramos só com nossa nudez, você e eu, descobrimos com horror que as paixões tão nossas faziam parte da cenografia do acontecimento. Por isso hoje só você e eu enfrentamos o vazio da perda do sentido, e isso é insuportável. Na minha memória só ficou disso tudo a lembrança dos movimentos.
ELE Me apoderar do seu corpo, dos buracos dos seus cheiros
cada zona do seu corpo que eu golpeava
sabia a cor de cada um dos hematomas
antes tinha algum sentido, diziam que eu não conseguiria te tirar nenhum nome nunca...
agora não te entendo você pode gritar meu nome para todos e outra vez prefere calar e não falar
confessa filha da puta grita quem sou eu quem fui grita o que aconteceu entre nós não me negue mais.
Porque eu existi. Eu fui.
Por quê? Por quê? Por que não diz o meu nome?
ELA Não direi o seu nome. Você preferiria que eu te denunciasse, que contasse tudo
Sei que assim você se sentiria melhor orgulhoso de que todos soubessem que me bateu.
Você quer ser herói como todos os demais orgulhosos outra vez do que fizeram
orgulhosos de andar soltos desafiando e ameaçando sempre... outra vez heróis...
você é muito deturpado eu não vou dizer nome você vai seguir esperando sempre...
será esse seu pequeno tormento te conheço bem
é a única maneira de estar prisioneiro não vou falar
não te conheço você é irreconhecível mais um de todos eles
você quer ser herói e se sente herói e se sente anônimo...
Vou ficar em Silêncio. Meu Silêncio é sua prisão. Meu Silêncio são os gritos em sua cabeça ali ninguém vai poder te soltar
você sabe que não
prisioneiro dos gritos prisioneiro dos pânicos
talvez algum dia quem sabe ou talvez nunca
porque agora o tempo é meu.
Não vou falar,
Não vou te fazer herói nunca
você vai continuar esperando fechado no meu Silêncio.
Não vou dizer o seu nome...

. o que eu visualizo com este epílogo (e por isso o nome dado é cenografia do acontecimento) é uma virada do espetáculo (e da personagem femina) onde ELA chama a atenção d'ELE para o fato de eles fazerem parte de um todo muito maior. para o fato, duro como pedra, de que a história deles é só mais uma, para o fato de que ele é tão anônimo quanto herói e que tudo isso pode não significar nada num dado momento. ela destrói o cara nesta hora. ela se destrói por fim, porque ele é a sua única segurança. é apenas ele que vela pelo corpo morto dela. mas é preciso. em NÂO DOIS, os dois terminam partidos. algo como uma lógica de simetria perfeita. onde cada um tem de volta aquilo que propaga. bizarro. acho isso muito difícil de avaliar, de compreender, de aceitar...
.

# 23

20 de novembro de 2009 - Sala 404 (UNIRIO) -18h/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. trabalhamos um pouco do 3º e do 4º movimento. a idéia era identificar quebras possíveis no texto e dar uma assimilada no que acontece realmente nos dois movimentos e, por consequência, no epílogo;
 
. fiz um jogo que irritou bastante os atores. pedi que ficassem frente a frente e que dessem o texto. a cada piscada de olhos que o outro (que estava em silêncio) desse, o que estivesse falando deveria propor uma quebra imediata em seu texto. qualquer quebra era permitida (poderíamos usar pausas, mudanças de ritmo, andamento, altura, grave, agudo, qualquer coisa, intenção, entonação...);

. evidentemente que esse jogo é quase impraticável, mas rendeu pelo menos uma ligeira consciência sobre a importância de quebra. não consigo marcar o texto, fazer uma partitura vocal. prefiro estimular o entendimento dos atores e deixar que a cada apresentação e/ou ensaio eles façam suas propostas. está aí algo que devo amadurecer;

. fizemos duas passadas da peça toda (sem o epílogo). a primeira deu 30 minutos e a segunda (com o epílogo sendo lido), tivemos um tempo de 32 minutos.
.

# 22

18 de novembro de 2009 - Sala 504 (UNIRIO) -10h/14h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. finalmente começamos o trabalho do movimento mais difícil na minha opinião, o segundo, intitulado MEMÓRIA;

. na noite anterior, saí do ensaio e fui jantar sozinho num bar aqui perto de casa e enquanto esperava a refeição (e durante o jantar) fiz algo que nunca costumo fazer, mas que foi extremamente útil neste altura do jogo. abri meu caderno com o texto em mãos e entendi uma possível marcação/jogo para o segundo movimento. fui pegando fala por fala e buscando estímulos mais concretos para os atores. estímulos que trouxessem a eles alguma verdade já vivida, alguma experiência já trocada. uma forma de ser mais psicológico e menos formal (algo que está tornando o processo bem complicado e interessante, ao mesmo tempo);

. neste movimento, acredito eu, na fala d'ELE intitulada O MONÓLOGO DO PAI (que é quando ele conta novamente para ELA sobre um caso traumático da infância d'ELE), ELA consegue sair da estrutura (que o Dan resolveu chamar de ESTORTURA) e se reconhece morta. ou seja, o segundo movimento é aquele na qual ELA se desprende de seu corpo para ver que o mesmo morreu;

. ao chegar na sala de ensaio, propûs ao dan o trabalho com posições físicas, um trabalho com "estátuas", ou seja, ele assumiria composições do corpo variadas e depois, eu organizaria estas e teríamos um desenho corporal para o segundo movimento. a maioria das posições afetou gravemente a voz dele, fazendo com que o tom da cena mudasse drasticamente, substituindo uma possível gritaria por uma fala mais contida, mais interiorizada;

. ao término do ensaio, conseguimos levantar o segundo movimento. ainda pensando em revelação, no MONÓLOGO DO PAI (que eu descobri se tratar de um caso da vida do dramaturgo Eduardo Pavlovsky, em seu livro, A MULTIPLICAÇÃO DRAMÁTICA), eu acredito que a personagem feminina encontra espaço para a sua saída do corpo, é quando a sua morte se concretiza. daí, me surgiu a idéia de selecionar algumas frases e pedir à natássia que as roubasse do dan. a cada frase roubada, um braço da estrutura seria aberto;

. é complicado explicar tudo aqui. depois quero acrescentar fotos. segue o trecho do texto que chamamos de MONÓLOGO DO PAI (e que é incrível). na fala anterior a esta, ELA pergunta o que poderia ter criado nela esta estranha capacidade de sentir pena dele, é quando ELE a lembra de um acontecimento entre os dois, no passado:
ELE Um domingo de tarde eu tinha ido te visitar você perguntou quem era meu pai
Meu pai?, disse eu, me ouviu bem, me disse
curioso, do meu pai eu só tenho lembrança, uma lembrança que sempre me volta...
eu tinha perto de nove ou dez anos
tinha chegado em casa chorando, porque uns meninos tinham me batido na rua
meu pai me disse que queria vê-los, prometeu que não ia se meter que só queria vê-los
fomos juntos caminhando até a praça. Estavam lá. Não nos viram. Papai perguntou qual tinha sido o que tinha me batido.
Mostrei um deles o maior deles para mim, que tinha bigodes
meu pai me disse e esse idiota te bateu?
Vai lá e bate nele agora mesmo
anda e fala para ele que você veio bater nele sozinho
eu olhei o menino de bigodes, me pareceu maior que nunca tive uma sensação física de debilidade enorme, sentia que ia desmaiar, tremia de medo...
Você tem que brigar com ele, anda não seja cagão, anda vai e bate nele
e quanto mais papai insistia mais eu me aterrorizava.
Agora é o momento, anda e diz que quer brigar com ele sozinho, sem os amigos, que você quer bater nele sozinho você vai ver como se encolhe, certeza que vai se encolher.
Eu não saía do terror, para mim essa cena não acabava mais, foi eterna
é provável que tenha durado apenas um ou dois minutos
só sei que num momento disse pro meu pai
quero ir embora pra casa, não tenho coragem
Certeza que não tem? Me lembro de seus olhos. Sua expressão desembaraçada, sua frustração infinita. Seu filho era um covarde.
Não tenho coragem é maior do que eu lhe disse...
não, não é maior, se você não tem coragem não se engane a você mesmo e vamos para casa... e voltamos caminhando em Silêncio junto.
Esse dia permaneceu oculto entre nós
vergonhosamente silenciado e cúmplice.
Foi a marca por onde transitou nossa história.
.

# 21

17 de novembro de 2009 - Sala 111 (ECO/UFRJ) - 20h/22h
dan marins, diogo liberano, jéssica baasch, marcellus ferreira e natássia vello.

. apresentamos um passadão (sem epílogo e sem segundo movimento) para um dos professores orientadores, o Marcellus Ferreira. segue apenas um comentário que foi muito válido para mim:
. trouxe a questão da forma narrada e não dialógica que o texto propõe. sugeriu que trouxessemos uma maior sutileza para lidar com o texto em alguns momentos. sinalizou que falta sensorialidade para os atores, visto que seu modo de falar (em trechos específicos) não alcançam aquilo que está sendo dito;
. a partir desse comentário, começei a repensar o trabalho com os atores e começei a propor algumas possibilidades outras para estimular a construção e apropriação das cenas.
.

# 20

15 de novembro de 2009 - Casa do Dan - 13h/17h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.
 
. pensando muito em revelação (o que eu posso atualizar para o espectador. quais puxadas de tapete. como inaugurar novas composições. como segurá-lo na cadeira e não deixá-lo sair dali. muitas perguntas);

. trabalho de simultaneidade do primeiro movimento. é alguma revelação isso. instaura a participação d'ELA no jogo de repetição das partituras. é estranho. é estranho sim, eu acredito;

. louco porque experimentei propor ao dan uma "marca" que de imediato não significava nada muito claro (uma andada circular ao redor da natássia, porém, andada esta feita para trás, ele andando ao redor d'ELA, só que de costas). isso causou um incômodo de primeira, até mesmo eu duvidava. aos poucos, porém, a coisa foi sendo apropriada e se converteu em entendimento para o ator (eu diria hoje, dias depois deste ensaio que descrevo agora, que a marca se converteu em necessidade);
 
. organizamos a semana seguinte de ensaio e fechamos o nome do espetáculo em NÃO DOIS.
.

# 19

13 de novembro de 2009 - Sala 407 (UNIRIO) - 18h/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. trabalhamos o prólogo na primeira parte do ensaio. encontramos o jogo da respiração, que abre a peça. aliás, cada vez mais o apelo físico está ganhando o espetáculo. a fisicalidade, exposta, desenhada, é muito estética, é muito mais corpo, enfim...

. sugeri à natássia que usasse o longo tempo do prólogo falado pelo dan (cerca de 3 minutos) para concretizar apenas um movimento (o de ir recolhendo o corpo que começa jogado para trás);

. no caderno do espetáculo encontrei isso escrito "how dificult it is"...;

. depois ficamos por conta do primeiro movimento, sempre retornando o prólogo para entender em que lugar o primeiro movimento estaria. surgiram coisas boas por aprte dos atores, lógicas de movimentos;

. fizemos uma passada pulando o que faltava ser levantado. o terceiro movimento me sugeriu muito claramente a necessidade de se pensar a sonoridade do espetáculo. e ainda me disse (o terceiro movimento) de que os sons saem dos corpos em choque (!).
.