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domingo, 29 de novembro de 2009

Não Dois...

Está chegando a hora. O blog está super desatualizado. Mas estamos ensaiando todos os dias. Muito o que conquistar. O trabalho está mais difícil, no entanto, também mais prazeroso.




Clique na imagem para vê-la em seu tamanho original.
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

12 de agosto de 2009.


Rio, 12 de agosto de 2009.

Cheguei a pouco do primeiro ensaio de PDD. Ontem criei um blog, intitulado Processo de Pas-de-Deux, cujo endereço é pdpdd.blogspot.com. A idéia é lançar lá no blog todos os movimentos feitos em sala de ensaio, como se fosse um arquivo (ainda privado) de todo o trabalho com os atores. Acho que lá na frente pode ser legal ter isso exposto, ter isso como material nosso, enfim, não preciso justificar todos os atos. Fiz, estou atualizando, ao término de cada ensaio. Depois vejo mais...

Outra coisa que me veio hoje é sobre o nome da peça. Estou muito tentado a desenvolver alguma coisa nova nesse sentido. Não sei se PDD serve. A noção de negação do dois é muito interessante. Algo como “não dois” me parece bastante sugestivo. É realmente um lugar de combate ao que é dicotômico, à própria noção de dualidade, algo que eventualmente (para não dizer, recorrentemente) já se tornou cansativo. Pensar nisso.

não dois

Eu gosto muito. Na verdade, gosto muitíssimo. Dá uma idéia ruidosa de duplo. Sei lá, me parece muito bom muito prenhe de conflitos. Nesse sentido, a presença de um terceiro corpo em cena é muito interessante, muito. Ele quebra a harmonia aparente do ser dupla. Assim como sobrevida quebra a harmonia aparente de vida e morte. Estamos transitando por lugares outros. Estamos emergindo outras possibilidades. Descobrindo algo entre ou além do oito e do oitenta.
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domingo, 22 de novembro de 2009

novembro - última semana obsessiva de ensaios

terça . 24/11
UNIRIO de 20h às 23h
epílogo.

quarta . 25/11
UNIRIO de 10h às 14h
epílogo.
 
quinta . 26/11
UNIRIO de 19h30 às 23h
passadão.
 
sexta . 27/11
UNIRIO de 17h às 21h
UFRJ de 21h às 22h
passadão.
 
sábado . 28/11
UNIRIO de 10h às 16h
passadão.
 
domingo . 29/11
UNIRIO de 10h a...
passadão.
 

10 de agosto de 2009.

Rio, 10 de agosto de 2009.

Eu nem sei se escrevi aqui, mas fiz na semana passada (mais precisamente, na quinta-feira dia 06 de agosto) a primeira leitura com o elenco de PDD. Na verdade, a idéia era fazer uma leitura com o Dan Marins e a Nat. Ele achou que era um teste e ficou ligeiramente surpreso ao saber que não, que ele ia mesmo fazer PDD. Mostrou-se interessado. A leitura foi ótima. Ele fala bem o texto, acho que teremos um processo bom pela frente.

Já marquei dois ensaios nesta semana. Eles vão acontecer na quarta e na quinta, dias 12 e 13 de agosto. De 15h às 18h. Para começar, dois ensaios curtos. Mas acho que este tempo de 3h por ensaio está de bom tamanho. Como estou começando antes, evito me atrapalhar com cronograma. Quero experimentar bastante antes de começar a fechar coisas.

Confesso, ainda não consegui sentar para estudar nada. Mas não há desespero. É mesmo aquilo que tinha entendido em algum momento deste ano. O estudo é o próprio processo, portanto, vamos fazendo. Quero estudar um pouco amanhã (terça) e na quarta pela manhã. Vou seguir a metodologia arranjada, desenhada meses atrás. Explorar os campos de texto, composição, improvisação e relação. A Jéssica já vai estar presente na quarta-feira. As aulas na faculdade nem começaram (gripe suína), mas já vou ensaiar.


Encontrei-me com a Jéssica recentemente. Convidei-a para assistir Cachorro! Ela adorou demais o espetáculo. Aproveitei e conversei com ela sobre o início dos ensaios. A imagem acima foi ela quem fez, numa colagem de referências para PDD. Achei bastante interessante. Bastante. Vamos seguindo.

sábado, 21 de novembro de 2009

03 de agosto de 2009.

Campinas, 03 de agosto de 2009.
Rodoviária

Já é hora de começar. Pensar em rotina, mesmo que não seja isto propriamente. Pensar em repetição. Persistência (nas poças da incompreensão – persistência nas poças do que não é sublime e nisso, perceberemos a nossa real vocação).

Acho que o elenco está completo. O Dan me veio por indicação da Natássia. Ainda não sei quem ele é – ainda não. Bom motivo para se gastar – o primeiro mês de ensaio ainda é horizontal, dele tudo sairá, portanto nele acreditar. Ir juntando tentativas, menos acertos e mais erros – e criar um corpo que seja nosso por inteiro, mas ainda assim, meio nosso meio do mundo. Aquilo sobre o qual estamos falando pertence ao mundo, a princípio.

FAZER ao invés de FALAR. Estimular deixar neles crescer, isso que em mim sozinho pode vir a morrer.
A música nos ensaios, as diferentes atmosferas, saber propor também o silêncio.
Os figurinos. São apenas roupas de ensaio ou poderemos experimentar outros sentidos?
Sim. Horizontal.

>>> Acreditar nas imagens como guias, como a única explicação disponível. Voltar à metodologia dos ensaios e estudar com afinco as etapas:

Relacional (quais objetivos)
Improvisacional, composicional
Textual
Cada qual pode ter seu(s) objetivo(s)
Saber qual são e agir na sua
Conquista.
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

25 de julho de 2009.

Rio, 25 de julho de 2009.

Gente, que correria. Deus é mais! Enfim, terminei somente hoje o projeto (que deve ser entregue ao professor José Henrique na disciplina de Direção V). Estou desde segunda escrevendo e reescrevendo e fechando coisas que estavam soltas, mas que quando colocadas no projeto parecem te exigir forma. Enfim, mais uma etapa que se encerra. Para se abrir, novamente, mais adiante.


Enfim, gosto como ponto de partida. É muita coisa para dizer em apenas duas folhas permitidas de projeto.

O que eu acho que ainda precisa ser feito agora em julho é:
- fechar rapidamente a noção de “inconsciente coletivo” em PDD;
- começar os estudos de Anne Bogart e Viola Spolin;
- fechar o elenco;
- e reestruturar um cronograma de ensaios.

Sobre o elenco, a Natássia trouxe uma possibilidade. Um ator com o qual ela está ensaiando o espetáculo novo da Cia. dela. O bom disso é que além de ser um ótimo ator, os horários dele batem com os da Natássia. E a partir de outubro, os dois estarão livres para PDD.

A Jéssica deu uma parada em nossos encontros. Não ela, mas não pudemos nos encontrar nas últimas semanas, então, eu achei melhor também não ficar insistindo. É legal ter uma ou duas semanas de descanso. Depois, este será impossível. Ou não.
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

02 de julho de 2009.

Rio, 02 de julho.

Gente, foi mesmo um lapso no tempo. Estou para estrear a peça Amores Risíveis, sob direção da amiga Natássia Vello. Então, tudo está correndo e nessas últimas duas semanas não tive tempo de me encontrar com a Jéssica, quiçá de estudar mais sobre o espetáculo.

Bom, tenho pensado no elenco e deixado a Jéssica mais sozinha, para que ela possa agilizar seu lado. Sobre elenco, vi antes de ontem a peça Novas diretrizes para tempos de paz, dirigida por um aluno da UFRJ, Thiago Paciência. Um dos atores me interessou bastante. Não sei o nome, nem sei por que não o convidei desde já para fazer uma leitura.

Enfim, preciso encarar essa questão logo.

A partir do dia 15 de julho, começarei a estudar bastante. E confesso hoje me veio que o estudo é o próprio processo. Ele será feito no decorrer e não tem que acabar antes do início dos ensaios. Vai se aprendendo, vai se aprimorando.
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

13 de junho de 2009.

Ipiabas, 13 de junho de 2009.

Fiz uma viagem do Rio para Ipiabas nesta última quinta, à noite. Logo no início da viagem, ao som de Caetano Veloso e seus álbuns mais antigos, fiz uma leitura inteira de PDD. Buscava, sobretudo, ler a peça por completo, sem pensar em muitos focos específicos que pudessem me desvirtuar de uma simples leitura. E eis que lendo encontro a força dramática do texto.

Sem dúvida é o achado. Pensar o que toca o personagem ELE e o que toca ELA. No sentido de estarem revivendo tudo. Por que revivem, onde esse resgate da experiência vivida – e compartilhada – toca cada um?

ELE

Acredito que ele quer reviver tudo isso posto tenha sido nestes momentos de vivência compartilhada que ele tenha conseguido viver intensidades, calores, experiências, sentidos e afetos. Sem isso ele resta no vazio. E o vazio o aflige da mesma forma que o silencia dela, noutro momento, o tornava irascível. Acho que ele quer reviver tudo isso para disfarçar o peso cruel no qual a realidade se transformou. Ele quer reviver para esquecer, distrair, o momento presente, o vazio do presente. É preciso reviver para conseguir viver. Sem isso, é melhor estar morto. Tem uma questão ambígua, porque ao mesmo tempo em que ele quer viver de volta, por conta das experiências, das intensidades trocadas, ele quer reviver pois isto anula de imediato a constatação mais dolorosa e perversa: a de que ele a matou. Reviver o passado é tampar o espaço do presente com algo melhor do que o agora. É uma maneira de escapar. De tentar sair, pelo menos, menos ferido. Com alguma vida, que seja, possível.

ELA

Sem dúvida sempre foi mais difícil encontrar as motivações d’Ela. No entanto, assimilando a sua morte, ou seja, aceitando que ela foi morta por ele e que a peça se inicia no instante imediatamente posterior a sua morte, tudo se torna mais prenhe de conflitos e objetivos. Ou seja, temos espaço para que a sua morte seja descoberta, tanto por ela quanto por ele. Após a descoberta, teria o se reconhecer morta, num estado que denomino aqui de SOBREVIDA. E depois disso, toda a sua insistência para que exista um reviver de tudo passado, transita num espaço ambíguo marcado por duas motivações: 1ª) querer que ele reviva tudo com intuito principal de vingança, ou seja, ela o faz reviver tudo chamando atenção para o horror causado por ele; 2ª) ela querer reviver tudo justamente porque revivendo ela se torna existente, ela ainda se mantém presente, não é esquecida por completo. Acho que essa dupla, esse par de possibilidades, é incrível e dá conta da personagem, da sua complexidade. Existe constantemente a descoberta do horror e da necessidade de afeto nos dois casos, por isso são misturados. Adoro!

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Na quarta, dia 10, eu tive um encontro com a amiga Brunella Provvidente, no qual conversamos sobre vida e trabalho. Quando tocamos no assunto PDD, ela adorou a idéia do cenário que não é tocado, quase sagrado, cenário diante do qual os atores buscam não encostar. Sugeriu alguma mobilidade possível e exclusiva ao cenário, como se uma cadeira, por exemplo, estivesse presa a apenas 10 centímetros do chão, movendo toda vez que algo passe por ela, ventando seu respirar. Ela me fez pensar nesse cenário que respira. A cena acontecendo e o cenário, sozinho, respirando, se movendo, como se alguma máquina dentro escondida pudesse sugerir um corpo vivo. Tem algo a ver com Kantor.

Surgiu também um primeiro espaço mais detalhado. Que poderia ser o espaço do corredor. Como se o trecho do quarto que interessa estivesse num meio, perdido entre os olhares, vazado, extravasado.

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Do trabalho com os atores

É sempre o que me dá mais medo, confesso. Sinto-me, às vezes, sem força para lidar com isso. Mas é o meu trabalho, portanto, acabo sendo impelido a estudar, a rever meus medos e a gerar e gerir suas curas.

Eu funciono com metodologias. Eu preciso estipular um caminho prévio, justamente para saber lidar com as rupturas do mesmo. Mas eu preciso ter um fio a seguir. E é o que estipulei na noite deste dia 11 de junho.

- estímulo à criação dos atores;
- acúmulo de vivências/criações;
- direcionamento de materiais gerados e levantamento de cenas.

A estrutura anterior segue uma ordem cronológica óbvia, mas necessária. Meu primeiro verbo é estimular. Dar materiais que catalisem a imaginação dos atores e espaço que receba essa produção. Depois, tendo acumulado todas as possibilidades geradas, eu começo a direcionar movimentos feitos, lógicas descobertas, tempos e intenções e estimulo, por último, a chegada na cena.

Eu preciso acreditar neste território. Ele desvincula da figura do diretor a necessidade de fornecer respostas. Ele situa o ator num espaço de criação em que ele assina pelo espetáculo. Em que o seu empenho determinará a fundação e a construção que será erguida.

Por isso, estipulei um prazo de um mês para a investigação “horizontal” da peça, ou seja, para aquela pesquisa que não visa resultados, mas antes disso, que busca relações, vivências, lógicas variadas... Neste tempo inicial (que seria o mês de agosto), a idéia é segurar as definições já feitas, as decisões já tomadas. Com as experimentações, acumula-se um saber de vivências que determinará de maneira decisiva as certezas já tomadas. Estas, a partir dessa pesquisa de um mês, poderão ser modificadas. A idéia é que neste mês acumule-se material suficiente para nos certificar as nossas escolhas. São escolhas, nada aleatório.

Das certezas do projeto inicial

O próprio trabalho de desenvolver um projeto pressupõe algumas colocações que devem, pelo menos, soarem mais acertadas e não tanto soltas. Assim, alguns pontos específicos da encenação já terão sido “fechados” antes do início dos ensaios. Pontos como, por exemplo, a leitura do texto, o que se quer dizer, as intenções das falas, espaço, esboços da direção de arte, etc.

Neste mês de agosto, todos esses pontos, essas certezas já definidas, entrarão num estado de SUSPENSÃO, justamente para que após a pesquisa do mês, as certezas tenham condição de se firmarem mais plenas, sem a sombra de muitas dúvidas. Esclarecido.

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Campos de pesquisa com os atores

1º RELACIONAL. Diz respeito ao trabalho corporal, à fisicalidade dos atores. Explorar a relação que pode haver entre os dois, a partir de estímulos ligados ao movimento (aproximações, afastamentos, vazio, preenchimento, intensidades...). Construção de partituras. O texto é de onde partem as relações mais preciosas. ESPAÇO DETERMINANTE PARA ESTIMULAR A IMERSÃO EM ATMOSFERAS QUE O TEXTO CARECE PARA GERMINAR.

2º IMPROVISACIONAL. Exposição livre da compreensão individual, em cruzamento com o outro. Propor situações claras e objetivas. Sugere administração de tempo, de sua progressão. Maneiras variadas de se lidar com um tema. MOMENTO PROPÍCIO PARA GERAR E CATALOGAR movimentos, lógicas, espaços, intenções, ações – tudo isso sugerido pelos atores.

3º TEXTUAL. Estudo poético-estrutural do texto, diferentes dinâmicas de intenção. Processo de digestão do texto, as palavras digeridas, os sentidos especulados, o íntimo do texto devastado e preservado. APROPRIAÇÃO. Poesia (metonímias, metáforas, hipérboles, rimas, repetições, zeugmas...). Estrutura (verbos transitivos e intransitivos, maiúsculas, minúsculas, pontuação, adjetivos, substantivos, sujeitos, tempos verbais...).

4º COMPOSICIONAL. Exposição guiada por estímulos precisos. Espaço de ação do acaso, ao sugerir o encontro de partes que não naturalmente se encontrariam. Espaço de digestão de materiais distintos lançados numa mesma panela e obrigados a coexistirem. Estimular a projeção de imagens, o aparecimento de novas lógicas relacionais. ESTIMULAR A GÊNESE DO CONTRADITÓRIO. Humanizar, tornar estético. VISLUMBRES DA ENCENAÇÃO.
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terça-feira, 17 de novembro de 2009

09 de junho de 2009.


Rio, 09 de junho de 2009.

Acabei de chegar do terceiro encontro com a Jéssica. Estou sem telefone e sem internet. Um dado que muda tudo, porque me faz concentrar num trabalho específico. Coisa que pareço incapaz de apreender ou pelo menos, um sofredor legítimo na tentativa de ser essa pessoa mais estudiosa e organizada.

Enfim, ao mesmo tempo, a cabeça transbordando de novas e boas e más e difíceis conclusões sobre PDD. Vamos por partes.

Não sei se já escrevi aqui, mas o amigo Andrêas Gatto não está mais no projeto. Por questões várias ele teve que nos deixar, mesmo restando o interesse mútuo desse encontro. Que terá seu tempo no seu devido espaço... Precisamos seguir. A saída dele, ao menos, me alertou para que homem é esse que preciso encontrar. E mais, que mulher é essa – Natássia Vello – que tenho.

A presença jovem da Natássia me desloca imediatamente de uma história que se dê plena no campo da relação torturador e torturada. Abre espaço de verossimilhança, mais para o campo dos amantes (homem e mulher) do que para a relação (quase envelhecida) que possa existir entre um torturador e uma vítima sua. Até porque, convenhamos, a noção de tortura em nosso país é datada, remete quase sempre – ou pelo menos majoritariamente – à ditadura (1964-1985).

Acho que vou escrever muito nesta noite. Pelo menos é o que sinto ser necessário, pensando a escrita como diálogo que eu mesmo faço comigo mesmo, na tentativa de evoluir e não colapsar desde já.

Vinho, alguma comida, algum som perdido pela casa e a coluna diante deste teclado imundo. Preciso de algo mais?

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Algumas conclusões (são sempre precipitadas).

- A peça se inicia num momento que é posterior a tudo o que está sendo lembrando e revivido pelos corpos ali presentes. É presente, a fala é naquele instante, mas é posterior, obviamente, a tudo o que está sendo lembrado, a tudo o que naquele agora é passado;

- O momento da encenação diz respeito à percepção dele de que ela está morta. E para ela, diz respeito ao seu ser em sobrevida, ou seja, diz respeito à sua vida posterior a morte dela mesma;

- O esforço dele em lembrar e recordar de momentos e de vivências é justificado pela necessidade de combater o vazio que a morte dela fez emergir; ao passo que o esforço dela em relembrar tudo isso é tentar trazer de novo a sua existência, naquele agora inexistente, tornada espectral, fantasmagórica. Ele sente horror dela. Ela o assusta. Ela está morta;

- O que estamos agindo ali é uma relação. Que é póstuma, pois morreu, mas que era em sua totalidade o que pode ser uma relação qualquer entre duas pessoas. Há a parcela desejo, há a parcela respeito. Há afetos distintos horrores possíveis. Sinalizo, como encenador, o tênue limite entre a capacidade de gerir e gerar horrores e afetos num mesmo gesto. Sobre como somos capazes de amar e matar, num mesmo beijo, num mesmo tiro, num mesmo entre que possa haver entre esses extremos que já não se mostram mais precisos. Não se mostram mais precisos porque eu pergunto: como eu posso negar a possibilidade de amor entre um torturador e seu torturado? Como eu posso negar a possibilidade de ódio entre um homem e uma mulher? Não posso negar. As coisas podem ser, boas ou más, ou pior, classificarem-se num infinito entre-lugar. É que no caso de PDD, os amantes e os torturantes coexistem num mesmo corpo, num passo de dois.

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Algumas metodologias.
- Levantar matrizes para estimular composições e improvisações com os atores. Exemplos de matrizes já separadas: trechos do manual de interrogatório; trechos do livro diário do farol, de João Ubaldo Ribeiro...

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Vindo no ônibus, surgiram-me muitas idéias. Seguem-nas:

...

Tudo isso para dizer que eu preciso estabelecer um link de simpatia inicial com o espectador. Para depois, no decorrer da encenação, poder lançá-lo para onde eu quiser, sem pedir a sua encenação. Primeiro eu seduzo, depois dou o bote. Eu te induzo a acreditar – pela luz, pelo cheiro, pelo ar – que caminhar por essa esquina a essa hora seja tranqüilo – e lá no fim do seu percurso eu te absurdo, e te estupro em posições inapreensíveis. Diria eu: metafísicas. Arte como estupro. Eu gosto disso.

Gente, estou demorando a deixar aqui registrado que esse encontro, lá no início, se dê – talvez – primeiro pela cenografia e pelo espaço. Como se entrando na sala de espetáculo, o espectador visse um quarto – que possa ser o da tortura, que possa ser o do casal. Mas usar o cenário pela negação, ou seja, não utilizá-lo. O que aconteceu ali naquele cenário, através daqueles objetos e móveis, já aconteceu. O que se inaugura com a peça é o posterior a isso. É na cabeça dele. Ele sequer quer olhar de novo, sequer ele quer tocar naquilo, isso seria profanar a morte dela. Seria brincar infantilmente com uma dor que ainda o conserva. Com uma perda que ainda lhe faz ser.

Caralho!
Parece tão óbvio, mas olhei na minha parede agora e transcrevo a seguir o que li:

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.
Carlos Drummond de Andrade. Liberdade.

Acho que isso diz tudo. Seria quase uma apologia à morte. Ou mais, apologia à liberdade. Incondicional. É o tipo de coisa que eu escreveria que eu a faria escrever com o próprio sangue, na parede da encenação.

Essa imagem é foda. É só porque tenho pensado nisso das marionetes, dos bonecos. A Jéssica está estudando o Manifesto do Teatro da Morte (1975) de Tadeusz Kantor. Vamos selecionar alguns pontos que estimulem a nossa pesquisa e construção estética.

Interesso-me, sobretudo, por um outro corpo. É como se houvesse um corpo dela, parado, morto. E outro, vivo, pulsante, movente. (Seu espírito, o corpo da atriz). Gosto disso... Seguir...
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

04 de junho de 2009.

Rio, 04 de junho de 2009.

Segue troca de e-mails com Jéssica:

>>>

dear,
estou com uma insônia horrorosa. acho que estou tomando mto café. enfim, estou pesquisando algumas referências e te envio algumas coisas.

bizarro o poder do insconsciente (indifere o nome). eu te falei de "a morte e a donzela". nem sabia ao certo porque. fui pesquisar e vi que se trata de um filme do roman polansky (um maravilhoso diretor, que fez coisas lindas como "o pianista", "chinatown", "o bebê de rosemary"...) >>> http://www.imdb.com/title/tt0109579/

enfim. se trata - o filme - da versão cinematográfica de uma PEÇA ARGENTINA de um dramaturgo chamado Ariel Dorfman
e que também roteirizou o filme. conta a história de uma mulher que um dia descobre que seu vizinho é, na verdade, um homem que a torturou no passado durante um governo fascista. ela fica no dilema entre se vingar ou não, ...

enfim. já fiz o download do filme. tenho que comprar um DVD virgem para gravar todas essas coisas para você. ou podemos combinar de assistirmos juntos.

>>> referências estéticas

em 2007, veio para o riocenacontemporanea, um espetáculo de uma companhia italiana

chamada Socìetas Raffaello Sanzio. o espetáculo se chama HEY GIRL!. eu participei como figurante (eram 40 homens que espancavam uma menina com travesseiros). coloquei o link aí embaixo de um trailer da peça.

o que quero dizer, enfim, (depois te levo um livro com fotos da peça), é que havia uma imagem de metamorfose, que era a atriz principal, acordando sobre uma mesa e tendo uma pele se desprendendo. são imagens, conforme conversamos. mas é louco. observe o tamanho da cabeça dela. observe a luz das fotos. isso é um lugar interessante esteticamente.


as fotos estão em anexo.

>>> outra referência, é o trabalho do encenador TADEUSZ KANTOR. este site reúne algum material sobre ele. talvez seja o mais completo. http://www.cricoteka.com.pl/en/index.php está em inglês, mas vc pode ir buscando e clicar em FINE ARTS, e depois em OBJECTS e dar uma olhada nas concepções de objetos cênicos.

- temos o manifesto do teatro da morte, que eu levo xerocado para vc, numa tradução excelente que foi publicada no folhetim.

O nosso segundo encontro foi também muito revelador. Estamos entrando na questão do horror e do afeto. Na introdução do livro com peças de Pavlovsky que foi publicado aqui no Brasil no ano passado, Betch Cleinman fala que para entrar no universo do torturador, é preciso superar o horror e penetrar na sua lógica dos afetos. Ou seja, não cabe aqui maniqueísmos. A construção do personagem deve partir da contradição. Talvez esteja escrevendo neste momento uma excelente constatação que me dê chão para começar a pensar nisso – já é hora.

Como construir esses personagens?

Pela contradição. Pelo ser violentado e violentar o outro como resposta, como tentativa de resolução de si mesmo. Evoluir...

Noite.
Respostas aos e-mails:

Lá vai o manual.

Ele obviamente não fala de tortura, porque é um documento oficial e esse tipo de documento não pode dar carta branca pra bater e espancar a todos, mas todos sabemos que a realidade da ditadura não foi assim - eu que o diga, meu avô foi um dos presos e mortos por ela.

Mas o manual tem uns tópicos maravilhosos sobre como deve ser o comportamento do interrogador em relação ao interrogado.

O começo do texto parece que nada se aproveita, mas algumas páginas depois que se torna interessante.

Eu já grifei várias coisas.

Na página 11, na parte de "Tratamento de Prisioneiros" - vale a pena todos os tópicos.

Depois, na página 15, os "Métodos de Interrogatório". As abordagens de aproximação são ótimas.
"O interrogatório é um confronte de personalidades" - Página 16 (achei essa frase tudo).

Por fim, o tópico "Qualidades de um Interrogador", página 17, vale a pena tudo que está descrito ali.

Depois dessas preliminares, aí começa a descrição do método de interrogação. Maravilhoso, nem vale colocar páginas aqui. Acho ótimo como eles sempre repetem como o interrogador deve sempre ser insistente e persistente (= obsessão?) e também como reafirmam que o interrogado deve estar sempre numa posição inferior ao interrogador.

E amei a definição do sobreviver - nunca tinha ouvido falar da primeira. Faz todo o sentido. E essa viagem do Intransitivo com não necessitar de um complemento, vide um outrem, faz mais sentido ainda.

Pra apimentar:

1. Sobrevida
Vida após um determinado limite
s.f. Estado daquele que sobrevive a outro. / Vida futura, prolongamento da existência além da morte. / Sobrevivência.

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Os termos sobrevida e sobrevivência realmente não significam a mesma coisa em linguagem médica. Mas Manuel Freitas e Costa, Dicionário de Termos Médicos (Porto, Porto Editora, 2005), define-os assim:

sobrevida: «acto de sobreviver»

sobrevivência: «viver para além do esperado» Pude, no entanto, saber que em português europeu, na área da oncologia, o uso de sobrevida corresponde a «vida com continuação da doença», enquanto sobrevivência significa a «situação de sobreviver livre de doença».

Beijos!

2009/6/4 Diogo Liberano diogoliberano@yahoo.com.br
you are amazing.
quantas coisas boas, vamos por parte:

pois é, eu e rick fizemos a tal figuração. levo o livro com mais fotos na terça.
eu levo o manifesto para você, não se preocupe.
beleza então. também vou assistir ao filme e a gente conversa sobre.
os objetos do kantor são bárbaros, a gente conversa mais sobre eles ao vivo.
conversaremos sobre as suas fotos!
eu adorei essa do livro do João Ubaldo. é mais fácil comprar ou xerocar? se puder, traga. pode ser interessante a gente investir nessa humanização do personagem masculino. algo que é bem difícil de se captar em PDD.

pasmei,
eu quero esse manual agora. pode mandar que eu imprimo e levo na terça, daí a gente xeroca.
é, tô tomando (café) com cuidado.

e agora, só adiantando:
fiz uma pesquisa agora mesmo sobre SOBREVIVER.
SOBREVIVER
so.bre.vi.ver

1. (intransitivo)
- viver depois da morte de outrem
- escapar
- durar
- continuar a ocorrer
Desenvolvendo as primeiras idéias que me ocorreram: essa questão do sobreviver, a partir do conceito acima, traz a sobrevivência não somente para ela, mas para ele também, afinal ele está tentando sobreviver após a morte dela e ela tentando durar após ter sido morta. Daí, o que mais me marcou foi o fato de 1) ser VERBO e 2) ser um VERBO INTRANSITIVO.

Seguindo: verbo pressupõe AÇÃO, ou seja, teatro!

e ser intransitivo (quer dizer que é um verbo que exprime estado, qualidade ou ação que não passa do sujeito, portanto, não pede complemento direto ou indireto)

ao contrário dos verbos transitivos, que exigem complemento, seja este diretom, indireto ou ambos.

Resumindo: acho que o campo de ações dela pode ser os dos verbos INTRANSITIVO e o dele ser dos TRANSITIVOS, ou seja, ele sempre precisa de complemento (PAS-DE-DEUX) e ela não, ela sobra, ela consegue se bastar, afinal, está morta, por isso intransigente, intransigível....

viajando!
obrigado por tudo,
avant

bjos
diogo

--- Em qui, 4/6/09, Jessica B. escreveu:

De: Jessica B. jessiebaasch@gmail.com
Assunto: Re: referências...
Para: "Diogo Liberano" diogoliberano@yahoo.com.br
Data: Quinta-feira, 4 de Junho de 2009, 11:21

Eu não acredito, essa última foto da peça era uma das fotos que eu ia te mandar. Mas amei ver o trailer, porque sempre quis entender direito essa foto.

E esse cabeção é demais. O Ricardo tinha me mostrado uma vez, não sabia que era da mesma peça.

Ótimo você ter mandado o manifesto, já ia pedir pro meu amigo xerocar pra mim. Se quiser eu peço e lhe poupo esse trabalho. rs. Vou dar uma lida agora mesmo.

Eu amo o Polansky, sem dúvida que os filmes dele são maravilhosos - porém nem tinha idéia desse filme. Pode deixar que eu baixo também, não precisa gravar. Aí assisto e a gente já comenta na próxima Terça.

Vou ler tudo isso. Já fuxiquei bastante desse site do Kantor. Viu a "máquina de tortura" do Water-Hen? Tesão. Amei também a cruz do "Veículo funerário". Será que tem outros na mesma linha que ele?

Enfim, vou repassar as fotos que te falei. Tem a da sala de tortura da Argentina (é o título da foto) e outras são salas de tortura e interrogatório esporadicos que achei. Ah, tem uma foto também que é uma dessas sessões de psicodrama - por curiosidade.

Vou adiantando: eu tenho um livro que considero meu segundo livro preferido, do João Ubaldo Ribeiro, chamado "Diário do Farol". É um homem de 60 e poucos anos que mora sozinho num farol, numa ilha inabitada e conta a história de sua vida repleta de atrocidades - o livro termina com ele contando a época que foi um interrogador/torturador da ditadura aqui no Brasil e ele tem um pequeno trecho explicando como é um torturador para ele
"O torturador não é um anormal, é um normal, mas é como se fosse necessário [...] uma espécie de espoleta para detonar nele esse roldão de sentimento animal, que depois se transforma numa cachoeira de gozo e deleite, numa relação indescritível."
Esse é um trecho, te mostro mais ao vivo.

Eu queria ter te falado de um filme que vi na nossa última reunião, se chama 'Grimm Love', mas esqueci. Não sei exatamente se dá pra tirar algum proveito dele, é basicamente a história verídica de um canibal da Alemanha - enfim, qualquer coisa vc me lembra de mencionar na Terça que vem caso eu esqueça de novo. rs

Estou juntando mais coisas - nossa reunião me levantou muitas curiosidades e questionamentos (que bom, né?) e vou esperar ter tudo mais conciso na minha cabeça pra te mostrar.

Agora, pasme: não vai acreditar o que achei na internet!

Um documento entitulado "Manual de Interrogatório". Sim, isso mesmo. É um documento que foi entregue a todos os policiais e interrogadores da Ditadura Militar no Brasil. São 40 páginas e funciona realmente como um manual. Explicando todos os aspectos do interrogatório, o porque, o como, o objetivo e todos os fatores que a comprometem.

Quer que eu passe por e-mail ou levo uma xerox na Terça?
E tome cuidado com o café, procure dormir bem senão as idéias não fluem!

Beijão!

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Gente, tudo está ficando complexo. Corro agora para dar forma. Veio-me agora que posso selecionar matrizes outras que não o texto, que venham com intuito de servir de estímulo para composições e improvisações, com intuito de compreensão e construção da cadeia de horror e afeto de cada personagem. Após isso, volta-se ao texto de Pavlovsky e o potencializa. Algo como a noção de raiz para o espetáculo teatral. O texto dele como raiz. Mas a peça, o espetáculo, a encenação – como fruto – divino, posto maculadamente humano.
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domingo, 15 de novembro de 2009

20 de maio de 2009.

Rio, 20 de maio de 2009.

Não consegui marcar uma leitura com os atores. O Andrêas está com problemas sérios de horário. Nem estou prevendo os horários do próximo semestre. Seria problematizar algo antes de sua hora.

Os encontros com a Jéssica agora se tornaram periódicos. Ontem nos encontramos e na próxima terça também nos encontraremos, sempre de 20h30 às 22h, na ECO.

O que conversamos ontem foi basicamente a noção de horror e afeto que Pavlovsky insinua com seu texto. Falar de horror é ser específico com a tortura. E falar de afeto é ser específico ao se falar de amor. A peça pode ser compreendida com essas duas leituras. Ela é ambígua, por isso não há campo de ação delimitado porque o fechar num desses campos assassina a possibilidade do outro. Assim, coexiste naqueles seres o amor e o ódio, a violência e o afeto. Essa ambigüidade dá o texto, ela o sustenta e dela não quero me desprender porque ela desenha bem como somos nós, seres humanos, esse produto do diverso.

Para além dessas duas leituras possíveis e complementares para a peça – digo complementares pois quando uma falha a outra se faz entendível -, há um terceiro dado que é também uma leitura da peça e que é determinante:
Ela está morta. Ela foi morta por ele. A peça começa segundos após a morte ter sido consumada. Não se sabe se ele percebe isso de imediato ou se vai perceber ali na frente. Não se sabe ainda. Mas ela morreu, foi por ele assassinada. Por isso toda a movimentação desesperada dele no início. Mas do que se responsabilizar pelo assassinato dela, por sua morte, ele sofre e sente pelo vazio no qual se lançou. Ele não a tem mais. Seu corpo não responde aos seus socos. Ele está morto. O corpo. E morta ela, ele enlouquece. É claro que ela está morta, ela diz Não vou falar. Vou ficar em Silêncio. É óbvio que vai ficar em silêncio porque ela não pode falar, porque ela está morta.
Para o próximo encontro de terça, eu e Jéssica levaremos a nossa leitura da peça tendo marcado em quais trechos ela pode ser lida como HORROR ou como AFETO. E pensaremos também a questão de ela estar morta. Para que isso? Para que tenhamos levantado onde a nossa leitura não se justifique, para que a gente feche um entendimento, uma LEITURA POSSÍVEL DE SER LIDA (POR NÓS, PELO ESPECTADOR).

Somente após esses entendimentos é que poderemos pensar plasticamente. A noção estética vem como ferramenta tradutora, é ela – a estética – que dirá certas coisas que determinaremos, é preciso dizer isto por meio disto.

E por último, à Jéssica também lancei a noção de ataque aos inconscientes coletivos. Aquilo que Grotowski tanto fala e que eu me apropriei para este trabalho.

Vamos indo que... (Sem ditados populares, please).
>> Saí do processo de Anatomia Comparada. Só para compartilhar.
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sábado, 14 de novembro de 2009

09 de maio de 2009.

Rio, 09 de maio de 2009.

E sobre o que tenho vivenciado como ator em Amores Risíveis, espetáculo dirigido pela Natássia. Dar tempo de processamento, não significa que há sempre que se fazer muitas coisas num só ensaio. Às vezes, é importante focar e deixar o ensaio por conta daquilo.

Pretendo marcar para o próximo final de semana, sábado dia 16 de maio, a leitura com Andrêas, Nat e Jéssica.
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29 de abril de 2009.

Rio, 29 de abril de 2009.

Não tenho nada para escrever, exceto o que tenho recebido dos primeiros ensaios do outro processo em que estou, Anatomia Comparada, da Cia. Teatro de Demolição, no qual sou assistente de direção.

A importância da improvisação como maneira mais direta e concreta de externalização dos atores daquilo que estão recebendo, ou seja, de todo o conteúdo acumulado. É excelente pensar em materiais bases para improvisar, e pensar a própria improvisação como uma maneira direta de purgar um peso que não pode se acumular, que precisa ser convertido em cena, em algo tátil, sensível ao corpo. Só isso.

Pensando em marcar para o meio de maio um encontro com a equipe (eu, Andrêas, Natássia e Jéssica).
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composições

o trabalho de construção das cenas neste processo está se pautando muito na feitura de composições. como diretor, solicito aos atores que executem uma pequena cena - uma composição - na qual eles devem passar por todos os itens que eu coloco na lista. a obrigatoriedade no cumprimento dos itens determina uma cena que é quase sempre muito original, porque solicito aos atores não algo previsto, mas sim um produto cujos ingredientes por vezes são extremamente ruins de serem somados. é um momento propício para a gênese do contraditório, como costumo dizer.




 



| clique nas fotos para vê-las em seu tamanho original |

vídeo # 19

vídeo com um dos primeiros ensaios do primeiro movimento da peça, intitulado simulação. nada ainda definido, apenas vislumbres do que virá a ser. estabelecendo as relações... uma peça com apenas 30 minutos de duração. é preciso medir cada segundo, descobrir quando se deve fazer uma nova revelação... a cada ensaio sinto o paradoxo inteiro: é bom e ruim, tranquilo e difícil. a cada ensaio me desespero e me encho de prazer. que complicado isso. vamos seguindo...




o corte cinematográfico. como deixar ver apenas o que se deseja que seja visto? no cinema isso é certeza quase inabalável, mas no teatro, a coisa toda tem mais autonomia. eu não posso te assegurar o que verás. eu não posso. não posso. e talvez por impossível, acabe conseguindo a façanha. como? não sei. não ainda. nunca talvez. um motivo a seguir...
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

21 de abril de 2009.

Rio, 21 de abril de 2009.

O encontro com a Jéssica foi maravilhoso. Tivemos apenas uma hora de diálogo em virtude de desencontro. De qualquer forma, ressaltei como desejava trabalhar com ela e de como este trabalho pressupõe a leitura dela sobre tudo o que estiver sendo feito. Disse que preciso do inseguro – é verdade – para criar.

Ela está disposta a cuidar das questões estéticas, da direção de arte, pensar junto comigo o cenário, figurino, iluminação e cores da peça. Além disso, ressaltei a importância de um pensamento focado no espaço.

Ela está super dentro e muito empolgada. Já para a leitura que desejo marcar para esta semana, desejo que ela esteja presente.

Estudos.

Dei um gás no estudo sobre inconsciente coletivo e arquétipos. Pesquisei sobre a psicologia analítica ou junguiana ou complexa. É tudo muito interessante e faz todo o sentido. A idéia é entender esses conceitos e trabalhar a partir deles, sem ficar preso. Foi muito interessante descobrir alguns arquétipos como persona, anima e animus.

Descobrir no homem um comportamento feminino, seu arquétipo. E na mulher, um masculino. Pensar que são estes arquétipos gerados e em constante mutação. Tenho que estudar ainda mais, mas de cara já se encaixa.

Voltei rapidamente ao Grotowski para entender que o ataque que ele direciona aos arquétipos, ou seja, às manifestações do inconsciente coletivo, tem intuito de gerar no espectador a auto-análise, gerar no espectador a autonomia para se ver. (Volta-se aos conceitos junguianos, no sentido de essa autonomia gerar na consciência a noção do que há de inconsciente, ou seja, tem a ver com o processo de individuação. Encenar ao espectador para gerar nele a possibilidade de se reconhecer e de se buscar um ser uno. É pretensão demais? Pode até ser, mas é um caminho a seguir, um objetivo a ser atingido, pesquisado, processado...).
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

20 de abril de 2009.


Rio, 20 de abril de 2009.

O mês já está acabando. Hoje, segunda, tenho reunião com a Jéssica Baasch, cenógrafa (e penso eu, ainda figurinista, enfim, aquela responsável pela direção de arte do espetáculo).

Ousei algo para este encontro. Quero muito que ela oxigene o processo, me interesso, sobretudo, pela leitura que ela terá sobre o texto. E o meu jogo será afetado por essa leitura. Assim, levarei apenas algumas referências concretas:

. Uma é o texto Questionar-te, que já coloquei aqui;
. A outra é o nome de Francis Bacon, como referência estética;
. E por último, um pequeno texto de um fotógrafo mexicano, que define de maneira muito clara e interessante, a idéia que tenho do que possa ser View-point (mais para frente coloco isso aqui).

Ou seja, a idéia é estimulá-la, mas não dizendo o que penso, exatamente. Quando ela estiver com mais clareza, eu vou deixando a minha leitura escapar e assim teremos jogo, sem que a minha opinião já a conduza por espaços já conhecidos.

Preciso falar sobre cronograma, sobre a estréia da direção de arte ser antes da estréia da peça. Se ela estiver conosco no primeiro mês - agosto (que penso ser de pura experimentação e pouco fechamento), o trabalho pode se encerrar já em outubro. Quase dois meses antes da estréia. (Dezembro).

***

Já falei com a Natássia e com o Andrêas sobre um possível encontro nesta semana. Para fazermos uma leitura do texto sob uma nova ótica, a da opressão militar e numa definição mais direta, uma leitura focada na tortura. Estudei no domingo muito sobre isso, lendo textos em espanhol sobre a peça e sobre a obra de Pavlovsky. Mudou tudo.

A ambigüidade do texto acentuou-se porque agora são dois pares num só: amante e amante e torturador e torturada. A relação “amorosa” surge da opressão, da violência. E a peça dá um percurso de nascimento e morte desta relação, destes seres. E o grande conflito, percebe-se então, é que às vezes é uma coisa (amor, desejo...) e por vezes é outra (violência, tortura...).

O diálogo de falas curtas (quem, ele, ele quem, ela, ela quem, eu falo sério, quando...) faz todo sentido sendo pensando como um interrogatório. Incrível.

Outra coisa que tem crescido é o interesse meu de pensar o que há de valores gravados no inconsciente coletivo e o possível embate da encenação contra esses valores (no caso específico de alguns, construídos de maneiras muito questionáveis).

A partir desse embate, surgiu-me uma idéia muito concreta e interessante para a arte gráfica. Imaginei um cartaz preenchido pela imagem de uma mulher (Natássia) amordaçada. (Ou mesmo, sendo calada por mãos de um homem). E embaixo, apenas um dizer que reflita esse inconsciente (inconsistente) coletivo, do tipo “Quem cala consente”.

A imagem vai contra o valor arraigado. E a encenação além de expor, desenvolver, o embate do cartaz, ainda avança mais uma perversão (sendo a perversão nossos degraus), pois converte a mulher vítima, torturada, em torturadora. Em última instância, estamos dizendo, que a violência é (ou acaba se tornando) a única saída para a vida hoje em dia. Num reflexo muito doentio da sociedade que estamos criando a partir do momento em que as relações se pautam nesse violentar. O conflito desta mulher em PDD é bizarro. Ela está entre violentar e entre resistir a este ato. Entre matar ou viver, mas sua vida neste momento diz mais do amor e este amor entre os dois é dor, antes de tudo. Ou é isso ou é mesmo morrer. A violência, a opressão, volta-se contra ela mesma. Só ela pode se ferir.

A idéia de que ela está morta é muito boa. É preciso pensar. Devo dizer, o nome Passo de Dois começa a não fazer muito sentido. Processares...

***

Segunda-feira, 20 de Abril de 2009

ele e ela
tentam ali
fazer compreender
que costura é essa
que além de os fazer
também os faz sofrer


que desejo?
que não-compreender?

é possível viver de novo
e redescobrir o que é morrer?
possível de novo se chocar
e se bater
e repetir
tentar fazer compreender
o que é isso entre a gente
que nenhum nome
é capaz de dizer?


eu me ergo
estou de pé
os sapatos lustrados
tentam no mover
sentir um entender.


um sentido
por ele eu grito
sapateio e giro
eu repito
e de novo
outra vez me implico


o mesmo passo
revivo a mesma dor
sangro de novo
até achar no mar vermelho
a cor nossa
nosso matiz
o nosso amor


é isso?
repita, por favor
repita esta aquela
e essa dor


repetindo poderemos ver
o que era aquele silêncio
que um dos dois
não quis verter.


que silêncio era aquele
que calado no íntimo
lacrado posto impreciso
gerou a dúvida que hoje
nos gerou.

o seu silêncio era ódio
ou o seu ódio é
que era amor?

por d.liberano às 00:16

***

A postagem anterior foi durante a madrugada, agora já é manhã e eu ainda me sinto tomado. Para a arte gráfica terei que produzir as fotos, mas buscando na internet alguma coisa, lembrei e encontrei fotos de tortura (recentes) da prisão Abu Ghraib, no Iraque. Segue uma arte que fiz rapidamente:



É só para pensar que a idéia do cala consentes, antes relacionada a uma mulher amordaçada, acaba ganhando mais um sentido com essa foto aí em cima. Visto que parece nos dizer – questionar – se o fato de nos calarmos está ligado ao nosso consentimento. Ou seja, transfere-se para o espectador a decisão da tortura, torna ele também responsável visto que está calado. Sei lá...
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novembro - segunda semana obsessiva de ensaios

quarta . 11/11
UNIRIO de 20h às 23h
segundo mov., terceiro mov., quarto mov.

sexta . 13/11
UNIRIO de 17h30h às 23h
prólogo e primeiro movimento.
 
sábado. 14/11
UNIRIO de 14h às 19h
prólogo, primeiro mov. e segundo movimento. 

domingo. 15/11
UNIRIO de 13h às 18h
segundo movimento.
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# 18


11 de novembro de 2009 - Sala 504 (UNIRIO) - 20h30/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. ficamos uma semana sem ensaiar, isso parece assustador, mas não temos tempo para sofrer, precisamos meter a cara na pesquisa e erguer mais cenas;

. fizemos uma passada do texto do primeiro movimento, como havíamos decidido num ensaio anterior. o texto não estava tão firme. discutimos o entendimento do primeiro movimento e disse a eles que esse cara acabou de matar essa mulher e acabou de ter falhado na tentiva de dispersar esse horror, esse fato indispersável. a partir dessa falha, ele começa a dialogar com este horror. ele toma consciência disso, por isso logo logo ela começa a dizer "Você sabe por quê?", que é justamente tudo o que ele não quer pensar nem ouvir;

. a partir disso, compreendemos que ela está apavorada, porque começa a compreender que este cara a torturou sem motivos reais, tudo com o intuito de a ter por perto. a intensidade de suas violências se justifica - para ELE - na medida em que se sentia bem quando com ela, quando a dominava, quando a desvendava. o horror dela cresce a cada segundo, pois vai percebendo que ele inventou muitas coisas e muitas dores e muitas torturas que não se sustentam por "argumentos válidos. tudo foi para que ele estivesse perto dela;

. os atores começaram a improvisar a cena a partir deste entendimento. indiquei apenas que usassem o texto da cena, que a natássia estivesse presa dentro da estrutura e que passasem pela sequência de movimentos;

. a improvisação não rolou, porque eles esqueceram o texto em vários momentos. sequer conseguiram jogar sem o texto. o que fazer? dei tempo (de 21h15 às 22h) para que fizessem uma composição com as seguintes solicitações:

- um PITI de natássia
-- uma REAÇÃO COM A CABEÇA feita por dan
--- a direção do palco característica do primeiro movimento
---- um movimento feito pelos dois sincronizadamente, mas descolado (ou seja, sem toque)
----- um trecho da sequência de movimentos feito pelos dois (sem toque)

. eles apresentaram, depois do tempo concedido, um esboço de uma composição. a partir desta composição, pontuei coisas e descobrimos outras novas.

. primeiro disse que desejo, em PDD, tudo aquilo que é violento, verborrágico, forte, intempestivo, exagerado, descontrolado, visceral. isso tudo primeiro, depois se limpa;

. depois, percebi que o dan criou um jogou de não ver esse corpo e de falar com ele mesmo assim. é como se a história acontecesse dentro da cabeça d'ele. falta-nos descobrir qual melhor jogo pode sinalizar isso.
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# 17


04 de novembro de 2009 - Sala 404 (UNIRIO) - 20h30/23h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. JOGO DOS ABRAÇOS (palma: deveriam se abraçar | palma: deveriam se distanciar ao máximo dentro do espaço da cena). o jogo ganha velocidade, ganha tempo, os corpos vão se acostumando à presença de outro corpo que o afague. cria-se a memória do movimento, sua lembrança física;

. solicitei que dividissem a nossa sequência de movimentos (chamada de "partitura") em pequenos movimentos. e dei três códigos: 1) a partitura como é; 2) a partitura sendo feita pelos dois, porém sem o contato entre eles; e 3) alguma variação em separado a partir do original. com tais códigos, passamos por todos os movimentos e fomos criando outros mais. surgiram coisas muito boas (vamos usá-las), principalmente nos momentos de descolamento (onde ele agride o "ar", por exemplo, e ela recebe a violência pelo "ar');

. ENTENDIMENTO DOS MOVIMENTOS: gastamos o resto do ensaio discutindo e entendendo fala por fala, desde o prólogo até o fim. tentando compreender o porquê das falas, seus enigmas, o que queria dizer certas coisas. definimos o momento em que ela se descobre morta, o momento em que ela sai de seu corpo, o momento em que começa sua vingança, quando ela acaba caindo no jogo da tortura e quando sai, vingando-se dele...

. terreno preparado para construção do primeiro movimento e depois para construção do segundo (conforme combinamos). 
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# 16


03 de novembro de 2009 - Sala 120 (UFRJ) - 20h30/22h
dan marins, diogo liberano, josé henrique moreira, marcellus ferreira e natássia vello.

. fizemos um jogo livre no espaço onde os elementos VOCAIS, ESPACIAIS e a SEQUÊNCIA DE MOVIMENTOS (a nossa "partitura") eram os movimentos permitidos para se jogar - enquanto isso, os atores passaram o texto e tive a clareza (de algo que há tempos vinha me solicitando), de como os dois precisam de um trabalho vocal que traga intensidade para a voz, além de articulação e possibilidades de gráfico (agudo, grave,...);

. passamos o terceiro e o quarto movimentos e percebi com isso uma imensa necessidade de PESSOALIDADE. sinto que a questão da peça precisa ser pessoal, ou seja, os personagens precisam existir e na nossa construção, ainda estamos distante deles... por mais estranho que possa parecer. o trabalho dos atores precisa sair da sala de ensaio, eles precisam estudar em casa, trazer propostas...;

. os dois professores assistiram ao "passadão" destes dois movimentos e comentaram sobretudo essa estrutura que aprisiona os atores ao invés de libertá-los. sinalizam que talvez eu tenha escolhido o caminho errado (começar marcando de trás para frente) e solicitam a minha mão para efetivar mudanças nas qualidades dos movimentos. (reluto um pouco porque sei que a estrutura será alterada quando o todo estiver pronto. mas a questão é: quando o todo estará pronto?);

. com a repetição eles estão ganhando muitas qualidades, porém neste ensaio, tive a percepção concreta de onde deveria agir imediatamente: no ENTENDIMENTO do TEXTO. objetivos para o ensaio seguinte.
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# 15

02 de novembro de 2009 - Sala 301 (UNIRIO) - 20h/22h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

. trabalhamos o terceiro e o quarto movimentos. numa primeira passada, a proposta era a de experimentar o jogo da cena de forma over, exagerada, com as intenções mais sutis sendo expostas de forma bem marcada;

. descobrimos relações entre os dois personagens e o corpo d'ELA, pesquisamos sobre a entrada d'ELA no abraço d'ELE, falamos em precisão dos movimentos (em JO-HA-KIU, do teatro nô);

. passamos os dois movimentos (3º e 4º) duas vezes seguidas (é nítido como a apropriação dos dois aumenta a cada passada);

. descobrimos que a personagem feminina pode, quando quiser, se fazer de morta - e que isso acelera a perdição d'ELE.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

15 de abril de 2009.

Rio, 15 de abril de 2009.

Os livros do Pavlovsky chegaram. Já consegui ler algumas peças dele além de Passo de Dois, que foi o nome dado a PDD. O conceito de multiplicação dramática expressos num dos livros é interessante, mas não sinto de imediato a necessidade de uma investigação mais a fundo sobre psicodrama.

Algumas questões: consegui finalmente marcar um encontro com a cenógrafa para a próxima semana, que será recheada de feriados (na faculdade apenas, menos na vida).

Há muito que fazer neste período. Preciso organizar o horário de estudos para não passar uma semana que seja sem pensar concentradamente um pouco sobre PDD.

Na semana passada, antes da Páscoa, estive com a Nat num café, ficamos de 22h até o início da madrugada em Copacabana, conversando sobre a vida e lógico, sobre teatro. E pensamos muito no conceito de View-point. Expandimos um pouco a nossa reflexão sobre, pensando como que um ponto de vista é um olhar mais específico e afetuoso sobre alguma coisa, sobre algum ponto. Percebemos que nas relações falta o contato, o cuidado de receber e também de se mexer pelo recebido. Falta cuidado com o sentido. Nada pode ser tão apressado assim. Pontos de vista. De onde escolheremos ver a questão? Sob qual ótica? É um jogo a se inventar.
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terça-feira, 10 de novembro de 2009

28 de março de 2009.

Rio, 28 de março de 2009.

Acabei de encomendar dois livros do Pavlovsky. Um sobre seu teatro e outro sobre alguma de suas pesquisas em psicodrama. A sugestão da Jéssica comprova-se. Descubro que ele realmente tem envolvimento com essa vertente teatral, ou da psicologia. Enfim...

Pesquisando mais sobre a vida e sobre a obra dele. Achei uns textos – em espanhol – que estou imprimindo. Não sei se registrei aqui, mas vou para a Argentina no próximo ano. Então...

O que queria colocar aqui é a idéia de mexer com pares, com pares de dois, sendo bem redundante. Pensar em opostos que inexistem sem seu extremo. Algo como: capitalismo/socialismo. Vida e morte. Homem e mulher. Opressor e oprimido. Saltar do texto e voar a partir dele...
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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

23 de março de 2009.


Rio, 23 de março de 2009.

Só para constar. Não paro de pensar no que disse Grotowski em seu Em Busca de um teatro Pobre. Sobre atacar o inconsciente coletivo. Acho que convém estudar o conceito primeiro, para depois buscar a necessidade do ataque (que eu já identifico) e as artimanhas do mesmo.

Outra coisa, já que isso é um diário. Na faculdade, estou como ouvinte na disciplina Projeto de Encenação, ministrada pelo professor Mário Piragibe. Enfim, juntando forças para PDD.

No meu horário de estudos deste semestre, quarta e sexta são dias que eu estudo a peça. Um dos primeiros materiais - estimulados pela aula de Projeto – é Peter Brook e sua – agora minha – intuição amorfa. Pontos de partida.
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domingo, 8 de novembro de 2009

13 de março de 2009.


Rio, 13 de março de 2009.

Faz quase um mês. Muitas coisas aconteceram. Dois trabalhos me fizeram distanciar um pouco de PDD. Para o bem. Volto com uma sede que me faz querer desbravar mais esse mistério.

Muitas coisas para colocar aqui. Grotowski está sendo decisivo, não propriamente num possível trabalho em relação aos atores, mas, sobretudo, ao me fazer pensar questionar os porquês de estar fazendo esta peça. Escrevi algo outro dia, que diz isso da minha maneira:
Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2009
Isso me expõe no lugar que não posso ser menos rigoroso. Acho que na profusão de coisas a serem decididas, acabamos por nos perder da função, do porquê, daquilo que justifica a existência do trabalho, nossa existência.

Além disso, resta uma busca pelo personagem genuíno, que não é julgado, que não é posto em cena sob julgamento, mas aberto a ser julgado, vulnerável, posto ser humano. Buscar as mazelas e belezas dos personagens no que essas qualidades têm de genuínas. Honestidade radical.

Ação em PDD me faz pensar em ação verbal. Às vezes, tudo o que preciso é ouvir o texto. Não cair nesta cilada de maneira ingênua. Conversando com a cenógrafa, Jéssica Baasch, ela me sugeriu pensar em psicodrama. Mais algo a investigar. Tempo.
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sábado, 7 de novembro de 2009

17 de fevereiro de 2009.

Rio, 17 de fevereiro de 2009.

Bom, só mesmo colocando o cabeçalho acima para perceber que não faz tanto tempo assim que não escrevo ou estudo PDD. É que eu estava com uma fixação tão sinistra, que o estudo tornou-se obrigatório. No bom sentido, claro.

Atualizações. Não tenho pensando muito, há vários outros projetos requisitando a minha atenção. Fico satisfeito em compartilhar aqui, neste diário, que estou sendo chamado para vários trabalhos distintos. Isso me deixa muito feliz. Mas quando paro para pensar em PDD, um leve desespero.

Bom, convidei hoje uma possível e desejada cenógrafa. Jessica Baasch, que conheci no ano passado ao entrar para o Grupo Garimpo. Ela me parece bem interessada e interessante. Mandei o texto por e-mail e em seguida pretendo marcar um encontro. Quero levar dois filmes para ela, para partirmos dos dois: um seria Last Tango in Paris e o outro, mesmo sem ter visto ainda, Império dos Sentidos.

Porquês. Império me fez pensar na área cênica que é o próprio colchão do casal. E não para de pensar também em sapatilhas. Bom, continuar sempre...
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

02 de fevereiro de 2009.

Rio, 02 de fevereiro de 2009.

O ritmo do dia-a-dia já está ficando insuportável. Muitas coisas a fazer. Não posso deixar de estudar PDD. De qualquer forma, o encontro-leitura da sexta foi ótimo. Andrêas e Natássia estão no projeto. Aconteceu uma química boa entre eles. São atores potentes, eu sinto, eu acredito. Expressaram a dificuldade de compreensão do texto, mas deixei uma cópia com cada um. E solicitaram encontros antes do início previsto (agosto). Estudar para tirar desses encontros o quanto mais de compreensão que for possível. Algo do tipo Aderbal, ensaios de compreensão, para depois, no processo mesmo, ensaios de exposição.
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

29 de janeiro de 2009.

Rio, 29 de janeiro de 2009.

A pesquisa está deliciosa. O tempo está indo embora. Acho que vem um lindo trabalho por aí. A conscientização do social está me invadindo, tocando aos poucos. Quero muito conversar com alguma advogada do Centro de Referência onde trabalho. Pesquisar os motivos vários que as mulheres têm ao justificar ou não um caso de violência. Outra coisa: estou ansioso, positivamente, para o encontro de amanhã, com o Andrêas e a Natássia. É isso.
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

27 de janeiro de 2009.

Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2009.

Terça-feira, início da madrugada. Não posso ir dormir tarde, porque trabalho amanhã. Só mesmo para registrar aqui que os trabalhos têm evoluído em PDD. Estou estudando durante todos esses dias e o mais importante, me sinto movido a estudar a peça. Não é forçado, é desejado. Estou juntando referências, fazendo download de filmes. Estou lendo O AMANTE, de Marguerite Duras. E fico vendo no livro possíveis associações com as personagens de PDD. Tudo ainda é muito início, mas é importante dar forma, na minha cabeça.

Coisas importantes: convidei a Natássia, não sei se já tinha colocado isso aqui. Ela topou. Eis que me lembro do amigo Andrêas. Bom, liguei para ele e perguntei se toparia um encontro para ler uma peça que provavelmente, disse eu, seria a minha Direção V. Ele topou, vou marcar para esta sexta-feira.

No mais é isso. Lendo Grotowski, lendo a peça, lendo até mesmo Freud. É hora de mexer em mil referências, para depois tudo dar forma. Só para registrar, por último, eu citei Freud porque estava lendo e percebendo como estamos lidando, em PDD, com o inconsciente coletivo. Isso é Jung, eu acho. Mas esse estereótipo do homem e da mulher, enfim. Depois desbravo. Mas ELA, em PDD, subverte a pose (posse) do homem, pela mudez. Estranho.

Noite.
Conversa com o Danney pelo MSN:
Daniel diz:
acho q os artistas brasileiros em geral tem mais engajamento
mas esse vinculo eh super frutifero
eu acho q pode e deve afetar a tua cena

did.i.os diz:
pois é
eu trabalho num centro de referencias de mulheres
ou seja

Daniel diz:
pra justamente fugir do estilo comedia de costumes de meia lua

did.i.os diz:
um centro q presta serviços, de referencia, para mulheres q sofrem violencia
é
e no final do ano
eu percebi isso esses dias
estreio uma direção q fala de uma mulher q é violentada pelo parceiro
só q é tão distante o tema do que é o texto
é uma poesia argentina, uma dramaturgia finíssima, deliciosamente bem escrita, com as palavras inevitáveis
eu parei pra pensar nestes dias e vi
estou falando do tema do meu trabalho
de uma mulher q se nega a dizer para todos que apanha do marido pq sabe q isso o fara se sentir melhor, orgulhoso do mal q propaga
é mto sério na verdade
medo.
silêncio.

Daniel diz:
entendo
talvez ela sinta prazer nisso

did.i.os diz:
pois é

Daniel diz:
talvez ela nao queira diminui-lo

did.i.os diz:
nao posso nao pensar nisso
é a mulher usando a sua vitimização para ser agente da violência

Daniel diz:
resta saber se ela sofre em silêncio ou se existe um fundo de prazer doentio nisso

did.i.os diz:
sim
e a questão
o q é sofrer em silencio com uma plateia ao redor?
o texto se chama
PAS-DE-DEUX
sabe o que é?

Daniel diz:
hm
eh uma referencia ao ballet

did.i.os diz:
um passo de ballet

Daniel diz:
mas traduzindo
ao pé da letra
pode dizer passo de dois

did.i.os diz:
exato
quer dizer q é um passo q só é feito com duas pessoas

Daniel diz:
nao dois

did.i.os diz:
exige um parceiro

Daniel diz:
pas tb eh a forma negativa do francês

did.i.os diz:
hummmmmm
é verdade
pas-de-deux ou o contrário disso, algo como não mais dois

Daniel diz:
no caso, dificil de traduzir

did.i.os diz:
gente
vc complicou ainda mais a minha vida, adoro

Daniel diz:
pq qndo vc diz
pas de deux....
deux alguma coisa
nao duas....
algo do tipo
.