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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

uma cena do "strange fish"

Tentei pôr direto junto com os outros vídeos, mas não sei como faz. É uma cena do "strange fish", do dv8... Se eu e a Nat conseguirmos o cheiro daquilo já vai ser bem bom.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Uma pesquisa mais profunda.

MANUAL DO INTERROGATÓRIO

Condição do Ambiente

1) As fases preliminares de um interrogatório devem ser levadas a efeito numa sala quase sem móveis, preferivelmente com, apenas, uma porta e sem nenhuma janela. Se existirem janelas, devem ser cobertas. A sala deve ser parcamente mobiliada, com uma simples mesa e cadeira para os interrogadores, as quais devem ser localizadas mais ou menos no meio da sala, de modo a aumentar o senso de isolamento do indivíduo e permitir, ao interrogador, movimentos livres para os lados. O paciente deve ficar sentando ou colocado de tal forma que fique olhando o interrogador de baixo para cima. A iluminação deve ser muito simples e nua, preparada para molestar o paciente e de forma a não revelar a hora do dia. Deve ser instalado um telefone aparelhado com um dispositivo de chamada oculto, para uso do interrogador.

2) A sala deve estar fora das vistas e ouvidos de outros prisioneiros e longe de salas onde se realizem outros interrogatórios. Muito cuidado deve ser tomado para evitar qualquer interrupção não planejada. Qualquer necessidade que surja durante o interrogatório - bebida, cigarro, fósforos, etc. - deve estar preparada e em condições de uso.

3) Para ressaltar a mudança de atitude conseqüente da capitulação do indivíduo, é conveniente transferi-lo para um ambiente mais acolhedor e informal, antes de começar a exploração. Por outro lado, é conveniente enfatizar, não deve haver, durante o interrogatório, qualquer interrupção fora do programa, ou mesmo uma distração, que possa quebrar a atenção do prisioneiro ou do interrogador.





sábado, 24 de outubro de 2009

Perguntas!

Sim, vamos seguir pelo comentário do Dan. Viemos aqui para confundir, não para explicar. Vamos experimentar este exercício de encenação pelo viés das perguntas, do pôr em questão, e não pensar tanto em respostas. Não queremos saber delas. Queremos expor nossas questões. Expor as dúvidas que são a nossa compreensão, a nossa leitura.

Vamos sim pela coerência pontuada pela Natássia. Devemos permitir ao público ter milhões de interpretações, mas vamos sim ter a mesma (o que não significa que ela é uma). Vou me esforçar agora para fechar uma leitura juntando todas as especulações pelas quais já passamos, especulações que juntos criamos, enfim.

A nossa leitura de Pas-de-Deux

Começo pela noção de verossimilhança. Dan Marins e Natássia Vello me sugerem, em primeiro lugar, corpos que poderiam ter sido marcados por uma relação de violência e obsessão conjugal, mais do que por uma relação entre torturador e torturada. A referência à tortura se caracteriza mais facilmente quando associada à ditadura militar, que no Brasil foi compreendida entre 1964 e 1985. É evidente que os ecos desta violência seguem no tempo, por isso PDD ainda faz muito sentido, porque o espírito obsessivo, interrogador, ele perdura no homem por gerações. Assim, ao visualizar nos dois atores mais uma relação de afeto permeada por violência do que uma relação inaugural de violência corrompida por algum afeto, me parece fazer sentido partimos então desta relação entre dois, claramente capaz de remeter a um casal de amantes, num primeiro momento.

Num primeiro momento, PDD nos revela uma relação que chegou ao fim. Aos poucos, descobrimos que fora uma relação marcada pela dependência, pela obsessão. Para além disso, o que vemos é um caso de violência presente numa relação trivial entre um homem e uma mulher, uma relação que pode ser lida também pela lente do torturador e da torturada.

Essa não literalidade, ou seja, esse não entregar de imediato o que é tudo isso, faz sentido se pensarmos na complexidade natural do ser humano. Somos seres complexos e contraditórios, às vezes simples, somos seres suscetíveis. Não há rótulos, há fundação, há personagens genuínos em jogo, em combate

Ao se pensar o casal, o que se vê de imediato é um personagem masculino, ELE, querendo a todo o momento se apoderar d’ELA, que se se vinga ao rechaçá-lo, ao não reconhecê-lo e a sequer lhe dar nome. ELA é destruída fisicamente, mas o torturador não consegue se apoderar de sua palavra. O silêncio – ou o não-reconhecimento – é a forma pela qual a vítima tortura o torturador.

Não podemos excluir nem rotular facilmente o que é essa relação. Não precisamos de classificações. Precisamos insinuar e validar estes personagens como fundadores de outros horrores e afetos possíveis. Capazes de nos sugerir possibilidades de relação que sequer pensávamos que fosse possível existir e perdurar. Não queremos o dois, não mais. Não queremos o belo e o feio. Queremos o que há no meio. E o meio é bastante coisa. O caminho do entre é profundo e nele podemos nos perder.


Da relação (compilando frases da Natássia)

ELE se apaixona pela sua fortaleza, admira-a. Ao mesmo tempo em que a vê como forte, sente-se fraco. ELE que deveria estar no controle da situação, ELE é homem. Dominá-la é uma questão de honra, para isso utiliza-se da sua força, tortutando-a. ELA precisa admirá-lo, ELA não pode sair dali e esquecê-lo. ELE não consegue arrancar nenhuma informação d'ELA, sente que ELA de alguma maneira está no controle da situação. ELE a mata porque não a deixaria sair sem tê-la desvendado, sem saber o que ELA sente, pensa, sem saber qual a sua importância para ELA. ELE a mata porque é o único jeito de dominá-la.

Que lugar é esse onde conversam? (Estão dentro de uma obra de arte). Como um pode estar vivo e o outro morto e ainda sim discutirem, tentando reconstruir o que aconteceu.? Ambos morreram. Esse é o fator complicador. Ele se matou? Ela o matou? Como? Ambos se mataram?


Da encenação

Nisso, investigamos o horror e o afeto num mesmo movimento, colocamos como questão e não como pergunta, a nossa estranha capacidade de amar e matar num mesmo gesto.

A noção de SOBREVIVÊNCIA. Para mim estão os dois personagens imersos nesse estado. Há uma dilatação do tempo, podemos assim dizer. O que vemos em 30 minutos é o tempo de 3 minutos que demora a escorrer. Ambos querem reviver o que passou porque isso dispersa o fato presente. Isso dispersa a realidade.

É - mesmo - pela noção de falta que os dois ali se estruturam. Os dois seres ali pelo o que perderam é que parecem se classificar. Eles são o que já foram. Eles são o que por eles passaram, o que por eles se perdeu. O momento presente diz respeito ao passado. O presente diz respeito ao ato de sobreviver, de restar, de durar, de ainda conseguir se manter mesmo com todas as perdas. De perdurar, de resistir e nisso também poder se reinventar.

Por favor, vamos problematizar esta visão.
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O Projeto de PDD

“Mas o teatro de Pavlovsky não é de denúncias locais e caricaturais, pois ele sabe que para representar figuras odiáveis é preciso aprender a superar o horror e entrar em seu sistema de afetos. Para investigar a lógica de um torturador, é importante compor o personagem a partir das contradições do humano e não de bons sentimentos ou esquemas maniqueístas”. [1]

SOBRE O AUTOR
Eduardo Pavlovsky nasceu em Buenos Aires, em 1933. Além de dramaturgo, é também ator, médico e psicodramatista. Pavlovsky fez história não somente dentro do teatro argentino, sendo um dos poucos artistas de teatro latino-americano que goza de renome internacional fora do continente. Algumas de suas 27 peças escritas foram publicadas no Brasil no ano passado, dentre elas, PAS-DE-DEUX, que na versão brasileira foi intitulada de PASSO DE DOIS.
Na apresentação da coletânea brasileira, Betch Cleinman identifica nas obras de Pavlovsky aquilo que seriam balbucios, mais especulações e menos verdades sobre a história argentina contemporânea. História essa fortemente marcada pela tortura, pelos seqüestros e apropriação de filhos de militantes por membros da repressão dos governos militares. Seus textos ultrapassam o que poderia ser um simples retrato dramático, social e/ou psicológico de uma época. Vão mais além, pois se configuram como afirmações poéticas que sugerem a necessidade de sermos mais do que nunca utópicos. Defensor de uma imaginação criadora, por isso também libertadora, Pavlovsky abre com suas obras novas perspectivas e esperanças para o futuro.

SOBRE A PEÇA
PAS-DE-DEUX (1990) é o sugestivo título (em francês) que faz referência ao que seria a parceria entre bailarinos. Formando um par com seu parceiro, torna-se possível à bailarina saltar mais alto e realizar movimentos que jamais seriam possíveis caso fossem tentados solitariamente. O título sugere de imediato, portanto, uma relação marcada pela dependência e que, na peça, é ainda mais desbravada. Pavlovsky, a partir de dois personagens anônimos (ELE e ELA), fala ao universal: o que vemos é um caso de violência na relação homem/mulher, na relação torturador/torturada.
No entanto, em sua dramaturgia não basta identificar os valores estabelecidos em nossa sociedade. É preciso expor suas engrenagens para que, a partir disso, seja possível questionar. Parte-se, então, daquilo que se poderia chamar de inconsciente coletivo, aqueles mitos que não constituem invenções da mente, mas que são, por assim dizer, herdados através de um sangue, uma religião, uma cultura e um clima[2]. E é por sobre tais valores que o dramaturgo lança um olhar que desvela como o ser humano é naturalmente complexo e contraditório. Um olhar que ultrapassa rótulos e revela as fundações, que atesta pelas motivações o caráter genuíno das personagens.
Em PAS-DE-DEUX estamos diante de um par que chegou ao esgotamento de sua relação. Pavlovsky expõe a violência sexual do homem e sua dependência física e intelectual frente à mulher, que na sua situação de vítima, encontra refúgio em sua própria força psíquica. Enquanto ELE a todo o momento quer se apoderar d’ELA, esta se vinga ao rechaçá-lo, ao não reconhecê-lo e a sequer lhe dar nome. A vítima é destruída fisicamente, mas o torturador não consegue se apoderar de sua palavra. O silêncio – ou, o não-reconhecimento – é a forma pela qual a vítima tortura o torturador.
Assim, além de identificar tais personagens e expor aquilo que as gerou, Pavlovsky ainda lhes confere a ação, pelo corpo e pelo verbo. Independe se em conformidade ou não com os valores da sociedade contemporânea, são personagens que inauguram possibilidades outras de relação. E sendo assim tão bem fundados, torna-se difícil duvidar da sinceridade de seus gestos. São personagens que nos confrontam com outros horrores e afetos. Com possibilidades de relação que sequer pensávamos que fosse possível existir e perdurar.

“Se há, pois, descoberta de Freud é a seguinte: nossa relação com o mundo e com nós mesmos não é instaurada por um objeto, mas pela falta de um objeto, e de um objeto de eleição, essencial, de um objeto querido, já que, na figuração edipiana, por exemplo, é da mãe que se trata”. [3]


SOBRE A ENCENAÇÃO
Minha proposta de encenação para PAS-DE-DEUX parte da vontade de investigar e de experimentar a possibilidade do horror e do afeto num mesmo movimento. Um espaço que me permita pôr em questão a nossa estranha capacidade de amar e matar num mesmo gesto. Parto, inicialmente, da palavra. É pelo verbo que se torna possível desbravar as personagens e descobrir seus paradoxos, seus medos e desejos. Em seguida, acrescento à encenação uma leitura muito pessoal sobre o texto original: a de que a personagem feminina (ELA) está morta, a de que ELA foi morta por ELE.
Isso me lança irremediavelmente na noção de SOBREVIVÊNCIA. Para mim estão os dois personagens imersos nesse estado. Por isso há nos dois o esforço de relembrar o que viveram juntos, as experiências compartilhadas. ELE quer reviver o que passou por conta das intensidades trocadas, mas também porque voltar ao passado dispersa o fato – presente – de ELE a ter matado. ELA, por sua vez, revivendo o passado consegue se vingar d’ELE, mas também é pela retomada do que passou que ELA parece assegurar um pouco mais de sua existência.
Para isso, a encenação aposta num espaço intimista, como um simples quarto de dormir (provavelmente, na sala 115 ou 120 da ECO). Aliado ao espaço, vislumbra-se trabalhar com um outro corpo em cena, como representante do corpo morto da personagem feminina. A presença de uma boneca, de pedaços de algum corpo, algo partido, assassinado. ELE se relaciona com o que restou (a boneca), enquanto ELA sobrevive como um espírito, incapaz de se relacionar – concretamente – com ELE ou quem quer que seja.
É pela noção de falta que os dois ali se estruturam. Os dois seres ali pelo o que perderam é que parecem se classificar. Eles são o que já foram. Eles são o que por eles passaram, o que por eles se perdeu. O momento presente diz respeito ao passado. O presente diz respeito ao ato de sobreviver, de restar, de durar, de ainda conseguir se manter mesmo com todas as perdas. De perdurar, de resistir e nisso também poder se reinventar.

JUSTIFICATIVA
A dramaturgia de Eduardo Pavlovsky é, sem dúvida, um dos principais motivos deste exercício de direção. O poder de sugestão que sua peça evoca, a violência que se multiplica em poesia e que com ela se confunde parece ser um concentrado muito rico das relações humanas do hoje em dia. E ao olhar para este hoje em dia, o que me impressiona ainda é a facilidade do rótulo, nos ausentando de qualquer responsabilidade sobre o contato, afinal, tudo pode ser classificado, mesmo que nem se conheça aquilo a se classificar.
Com Pavlovsky, essas atitudes se voltam contra seus autores e reivindicam a eles – e a nós – sua parcela de culpa. Que valores são esses que propagamos sem ao menos compreendermos? Que virtualidade é essa que age sobre nossos relacionamentos e que nos impele à solidão? PAS-DE-DEUX aponta para o óbvio e o desmonta, afinal, nem sempre quem cala consente. Nem sempre.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987.
MELMAN, Charles. O Homem Sem Gravidade. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2008.
PAVLOVSKY, Eduardo. O Teatro de Eduardo Pavlovsky. Rio de Janeiro: Solar das Metamorfoses, 2008.


[1] PAVLOVSKY, Eduardo. O Teatro de Eduardo Pavlovsky. P.6.
[2] GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. P.36.
[3] MELMAN, Charles. O Homem Sem Gravidade. P.21
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o que sela o encontro dos dois?

trecho do poema
essa margem sombria que escurece o corpo

...

amor,
é possível morrer falando?


amor,
cada qual do seu jeito
é possível morrer em sono?

amor,
esse frio frisa o que em meu corpo?

esse frio diz o que sobre o seu rosto
assim tão parvo, desculpe, amor
mas tão esquisito,
tão assumidamente torto,

amor?

amar talvez tenha se tornado um suplício
veja, ele desistiu
veja ele se afastou
como chora, meu amor
como o nosso amor magoa o mundo
como as coisas todas hoje choram
e enublecem
choram e escurecem
essa neblina é nossa ou é do mundo?
porque escurece?

...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Respostas?

Desenvolva o porquê d'ELE a ter matado. O que pode ter gerado essa violência, como a ação foi feita, o que a torna difícil de ser lida, o que a complexifica e nos impede de o rotular simplesmente de assassino? Como se misturam as noções de horror e afeto? Como o amor pode dar em morte?


Bom já disse várias teorias para essas questões e cada vez que penso, mais me confundo e acabo girando sempre no mesmo lugar. Antes de começar a discursar acho que deveríamos pegar todas as teorias e hipóteses dadas e escolher uma, vamos ter uma coerência de pensamento cênico. O público pode ter milhões de interpretações, mas nós deveremos ter a mesma, não? Precisamos fechar em uma leitura, senão acabaremos não tendo nehuma. Vamos concretizar esse texto nada concreto. Sendo bem objetiva no que penso de cada questão:

O porquê d'ELE a ter matado?

Ele não a deixaria sair sem que ele se fizesse importante. Ela no lugar de torturada tem uma força que ele desconhece e que lhe causa fascínio, ela não cede. Ele não consegue arrancar nenhuma informação dela, sente que ela de alguma maneira está no controle da situação, sente-se feito de idiota por ela. Nem toda a intensidade de sua tortura consegue arrancar o que está na intimidade dela. Ele a mata porque não a deixaria sair sem tê-la desvendado, sem saber o que ela sente, pensa, sem saber qual a sua importância para ela. Ele a mata porque é o único jeito de dominá-la.

O que pode ter gerado essa violência?

Ele se apaixona pela sua fortaleza, admira-a. Ao mesmo tempo em que a vê como forte, sente-se fraco, humilhado, como quando era criança e teve medo de brigar com um menino, sente-se tão covarde agora, como antes. A cada demonstração de força dela, sente a vergonha de seu pai pairando sobre ele. Ele que deveria estar no controle da situação, ele é homem e ela é a torturada, mas sente-se fraco e fascinado por essa mulher. Dominá-la é uma questão de honra, para isso utiliza-se da sua força, tortutando-a. Ela precisa admirá-lo, ela não pode sair dali e esquecê-lo. Ele precisa debilitá-la para fazer-se forte.

Como a ação foi feita?

Eletrochoque - "...a eletrecidade e seu protagonismo..."
Espancamento - "... as pancadas secas (...) cheiro de sangua coagulado (...) a música que parecia nascer dos nossos próprios corpos..."; "Sei que assim você se sentiria melhor orgulhoso de que todos soubessem que me bateu.", etc.

O que a complexifica e nos impede de o rotular simplesmente de assassino?

Que lugar é esse onde conversam? Dentro da cabeça dele? A possibilidade de ambos estarem mortos. Quando eles falam daqueles tempos, estão querendo dizer do tempo dele em vida? Como um pode estar vivo e o outro morto e ainda sim discutirem, tentando reconstruir o que aconteceu. Ambos morreram. Não existe passado entre os dois, então, quando ele "era" possessivo? Em vida? "Somos, fomos..."? Nenhum dos dois mais são? "...que mistério é o que se cruza entre nós dois..." Eles não sabem que estão mortos, estão reconstruindo a cena para que possam descobrir o que aconteceu.
"Te sufoco, te faço mal? Passa o ar? A traquéia ainda resiste?
Quantos sufocados?
Agora sim, estamos juntos, quantos com a cabelça no barro? Sem poder respirar
Corpos nus, mutilados, agora sim estamos juntos. Agora sim, agora sim.
Podemos recordar juntos, você não acha?"

Os dois estão mortos. Esse é o fator complicador. Ele se matou? Ela o matou? Como? Ambos se mataram?

Como se misturam as noções de horror e afeto?

Este é outro fator complicador da coisa. Se a relação deles é a de torturador e torturado, como poderia surgir afeto? Arrisco-me a dizer que o dele por ela parte de uma admiração, pois ela tem uma força e coragem que ele não tem, apesar de estar em estado de fragilidade, consegue dominar a situação, ou pelo menos assim ele enxerga. Ele se apaixona pela sua força, menos por ela e mais pelo que também queria ser, o afeto dele é uma obsessão, ele queria ter essa força e por isso precisa se apoderar dela. O afeto dela poderia vir com a piedade, enxerga a fraqueza e desespero dele e sente piedade, sente-se aterrorizada por esse sentimento. O mistério de suas mortes cria um elo entre os dois.

Como o amor pode dar em morte?

Não acho que seja amor.


Nat

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sobre a MORTE em PDD

A partir da última postagem feita pelo Dan, sinto que se torna possível fechar algum entendimento sobre a noção de MORTE em PDD.

Sem dúvida, o texto não nos convence de que ela está morta. Essa é uma visão sobre o texto, uma leitura específica que fiz sobre o original. Parto dessa primeira relação que é literal (como o Dan mesmo disse "uma relação de violência/tortura/intensidade/corpos intensos se relacionando... ") e lanço a sua trivialidade, a sua "normalidade" para dentro de uma estrutura mais aberta, mais assustadora, talvez mais incoerente, quero situar o espetáculo dentro de um universo que é maior do que nós, num primeiro instante. Essa sensação de ser maior vem unicamente porque somos incapazes de compreender tudo ao redor. Acho que estamos também falando de uma falência do homem enquanto Deus, ou, de uma percepção do quanto - apesar de não querermos - somos ainda humanos, demasiadamente humanos.

Assim, a questão da violência física chama a atenção pela coexistência com a relação afetuosa entre os dois personagens. E aqui o embate é dado pelo desejo (d'ELE) de querer o reconhecimento (NOME) e o desejo (d'ELA) de negar o mesmo (SILÊNCIO). E o Dan traz uma das questões mais essenciais, aquela na qual reside mesmo todo o tormento do personagem masculino:
"Ele quer seu nome na história, seu trabalho(?) reconhecido, ELE QUER QUE ELA O DENUNCIE PARA OS VIVOS!!!"
Em seguida, Dan argumenta que "é aí que a morte dela não" acontece em sua opinião. No entanto, é aqui que eu acho que reside a questão, ELE quer que ELA o denuncie ("conta o que eu te fiz"), algo terreno, algo mundano, cotidiano, simples, óbvio, natural... No entanto, observem: ELA o recusa. ELA não diz nada. A percepção de que ela se cala se estende de sua postura quando viva (a de SILENCIAR) e mantém sentido agora morta, porque estando morta, ela não pode falar, como antes. É compreensível? HOJE ELA CALA NÃO PORQUE QUER (POR ISSO ELA TAMBÉM FALA DURANTE O ESPETÁCULO), MAS HOJE ELA CALA PORQUE JÁ NÃO TEM VOZ. NÃO TEM NADA. ELA MORREU.

Dessa forma, acho que "essa é a loucura/tormento dele: não conseguir o seu lugar na história". E ele não consegue seu lugar na história por conta própria. Podemos dizer que a culpa é dele. Que ele gerou o seu não-reconhecimento. A violência mata também quem violenta. Ela volta. Ela se modifica e ganha o corpo de quem também a praticou.

Gosto quando Dan sugere que talvez seja pouco ela apenas dizer que ele a "bateu". Sendo morta, não parece mesmo pouco ela dizer isso? Por isso, acredito, existe a ação. O esforço de relembrar e de reviver os horrores. Acho que pela repetição ela lança ele no meio do horror que é, assim como estar morto, estar vivo.

Dan, então, coloca duas possibilidades: 1ª) "ou encaramos como um encontro factual, real, "no mundo dos vivos", entre um torturador e uma torturada" ou; 2ª) "partimos para metafísica, espiritismo, demência, alucinações, ciências ocultas e damos a esse texto um fantasmagorismo que pode ser muito interessante, porém talvez algo fantasioso e pr´além do que o texto nos diz de fato".

Acho que é desse encontro que estamos falando. Desse dilatar provocado pela obra de arte. Dessa resignificação. Desses gestos que poderiam ser apenas uma reprodução de movimentos mas que trazem algo mais. Acho que as duas formam um pas-de-deux a partir do qual é possível caminhar...
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Minhas considerações...

Como podemos nos certificar de que ELA está morta? ELA já está morta desde o início ou não? A partir de qual momento é possível ter certeza disso? Quem percebe isso primeiro (ELA, ELE, o público, ...)? O que vem antes e depois da morte d'ELA? E o que significa esta morte?

Caríssimo,
Eu vim para confundir e não para explicar. Então, lá vai: O texto não me convence de que ela está morta. Há (houve) uma relação de violência/tortura/intensidade/corpos intensos se relacionando... Ele realmente quis arrancar informações (nomes) dela através da violência física; ele realmente se apaixonou obsessivamente por essa relação; ela realmente silenciou: Tudo isto o texto nos dá. O texto nos dá também que ele quer que ela o denuncie. É onde mora o tormento dele: Ele quer seu nome na história, seu trabalho(?) reconhecido, ElE QUER QUE ELA O DENUNCIE PARA OS VIVOS!!!. É aí que a morte dela não houve pra mim. A denúncia, "conta o que eu te fiz", não acontece entre os mortos, no "espiritual" ou na loucura dele. Este não seria "seu triunfo". É algo bem concreto, daqui do terreno: Há uma torturada,com nome e identidade, uma vítima do autoritarismo do homem, dos governos ou do sei lá o quê. E o torturador é anônimo. É o vil que, tempos depois, em uma sociedade mais "esclarecida", não merece uma identidade. E essa é a loucura/tormento dele: não conseguir o seu lugar na história.
" Sei que assim você se sentiria melhor orgulhoso de que todos soubessem que me bateu."
Num texto onde a palavra é tão certeira/literal/efusiva, esse "bateu" não é muito pouco pra ser dito por uma morta, um fantasma, na cabeça/alucinação de um louco que a teria matado?
Acho que:

  • OU encaramos como um encontro factual, real, "no mundo dos vivos", entre um torturador e uma torturada, com todas as implicações psicológicassentimentaisexperienciais que esse tipo de relação pode trazer - "A morte e a donzela": Há horror, há tortura, há ressentimentos, mas os personagens seguem suas vidas bem vivas, com concerto e tudo; (o que é, na minha opinião, ao que uma leitura sóbria do texto remete)
  • OU partimos pra metafísica, espiritismo, demência, alucinações, ciências ocultas e damos á esse texto um fantasmagorismo que pode ser muito interessante, porém talvez algo fantasioso e pr´além do que o texto nos diz de fato.

É isso, meu caro. Nos vemos mais tarde.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Segunda Proposta de Cenário

outubro/2009





Corpo d'ELA. Um corpo frio, rígido, inanimado. Costelas, vértebras, arames, dilacerado, tortura.


Material: METAL.

Frio; rígido; inorgânico. Morte.

Alto índice de refração e reflexão.

A luz lançada é refletida. A leitura jogado pelo público na cena volta para si.


Cores: PASTÉIS.

Misturam e combinam com qualquer cor.

Não sugerem um pré-conceito. uma afirmação já definida. São cores abertas a qualquer interpretação, sem indicar diretamente nenhum tipo de símbolo ou informação.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Argument.ações

Agora que a partitura já está desenvolvida, preciso que cada um de vocês dois (Dan e Natássia) desenvolvam argumentações (com 'provas' que validem seus argumentos) individuais às questões que coloco a seguir:

DAN .
Como podemos nos certificar de que ELA está morta? ELA já está morta desde o início ou não? A partir de qual momento é possível ter certeza disso? Quem percebe isso primeiro (ELA, ELE, o público, ...)? O que vem antes e depois da morte d'ELA? E o que significa esta morte?

NATÁSSIA .
Desenvolva o porquê d'ELE a ter matado. O que pode ter gerado essa violência, como a ação foi feita, o que a torna difícil de ser lida, o que a complexifica e nos impede de o rotular simplesmente de assassino? Como se misturam as noções de horror e afeto? Como o amor pode dar em morte?

Desenvolvam estas questões. Especulem respostas. Especulem perguntas. Voltem às referências, tragam outras. Lembrando que estas respostas devem ser postadas aqui no BLOG. Lembrando que estas questões afetam diretamente o nosso trabalho em cena, portanto, obsessivem-se...
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sábado, 10 de outubro de 2009

referências visuais para a partitura

as referências abaixo são de Francis Bacon. aproveitem-as para deslocarem a construção de vocês rumo a um lugar outro, mais estridente, mais violento, mais desesperado (lugar este sugerido pelas obras indicadas). apropriem-se destas referências e façam reverência/referência a elas em sua partitura. elas sugerem ações, movimentos, gestos, estados...



> primeira imagem: referência visual para ELA



> segunda imagem: referência visual para ELE
.

diretrizes para construção de partitura

. duração de 6 minutos;
. a partir do
QUARTO MOVIMENTO . INTENSIDADE (páginas 10, 11 e 12 do texto)
. vocês tem o período que vai de sábado (10/out) a terça (13/out) para a construção da partitura
. ela será apresentada no ensaio de terça (13/out) às 21h na ECO/UFRJ


ESTÍMULOS
Pensem num trajeto, num caminho, numa evolução da personagem. Uma relação de causa e efeito. De um lugar chega-se a outro e deste a outro e assim, consequentemente, se avança rumo à variações dentro da estrutura deste personagem... (OU SEJA: QUERO VER CADA UM PARTINDO DE UM LUGAR E CHEGANDO EM OUTRO).

. percurso d'ELE
parte de:
"e antes eu evitava te prguntar coisas que pudessem te chatear além do necessário"

chega em:
"Por que você não me denuncia filha da puta?
Confessa meu amorzinho grita bem alto"
. percurso d'ELA
parte de:
"que estranho espaço teremos inventado
que às vezes não posso deixar de te falar malgrado minha vontade..."


chega em:
"e aí é onde seu pequeno tormento te fala de tantas horas equivocadas"

COMENTÁRIOS
. vocês devem construir uma partitura que seja o QUARTO MOVIMENTO, podendo partir das falas, mas chegando ao término numa estrutura física apenas, sem falas (lembrem-se do jogo com gestos, ações e movimentos);

. pensem nas lógicas trabalhadas (horror,afeto | vazio,intensidade | pas-de-deux | sobrevivência,sobrevida);

. essa partitura será repetida, logo, proponham variações em diversos níveis (ex.: aproximações, afastamentos, níveis, ritmos, repetições, quebras...).
.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

# 10

06 de outubro de 2009 - Sala 300 (UNIRIO) -19h/22h
dan marins, diogo liberano e natássia vello.

fizemos uma leitura do texto adaptado. o tempo da leitura foi de 25 minutos. discutimos um pouco sobre a divisão e sobre os cortes, chegando à conclusão de que não afetavam a estrutura do espetáculo.

foram apresentadas aos atores as idéias do cenário (cadeira, luminária e corpo-tapete) e da encenação (repetição da partitura). e fechamos um novo cronograma de ensaios para começar a partir da próxima semana.

nos encontraremos às terças (de quinze em quinze dias, de 21h às 22h, na ECO), às quartas (de 20h às 22h, na UNIRIO), eventualmente às quintas (de 19h às 22h, na UNIRIO) e às sextas (de 17h/22h ou de 19h/23h, na UNIRIO).
.

a adaptação do texto

durante as últimas duas semanas de setembro, o trabalho foi concentrado no corte do texto. a leitura de PDD, em sala de ensaio, sempre ficava por volta de 31 minutos, às vezes menos, às vezes até mais.

como a encenação deve ter duração de 30 minutos (regra da disciplina Direção V), me pareceu necessário já cortar desde agora um pouco do texto, mesmo que seja preciso cortar mais ou mesmo trazer algo que foi cortado. demorei para tentar o corte porque o texto ainda estava bem misterioso, nebuloso demais. a compreensão não era muito fácil. agora, em virtude da exaustão do trabalho (muitas leituras, trabalho com os atores, discussões inúmeras, etc...), me sinto mais capaz de fazer algum corte.

assim, a partir da divisão do texto que foi realizada no ensaio #7, ajustei o texto a nossa necessidade em cena. criei um prólogo e um epílogo. e compreendidos entre os dois, quatro movimentos (cenas, quadros, unidades, capítulos...).
pas-de-deux ficou assim:

PRÓLOGO . Um fio para seguir
PRIMEIRO MOVIMENTO . Simulação
SEGUNDO MOVIMENTO . Memória
TERCEIRO MOVIMENTO . Tortura
QUARTO MOVIMENTO . Intensidade
EPÍLOGO . Cenografia do Acontecimento

# 9

18 de setembro de 2009 - Sala 111 (ECO/UFRJ) - 18h30/19h30
dan marins, diogo liberano, marcellus ferreira e natássia vello.
os atores apresentaram a partitura que havia sido construída no ensaio anterior a este, pela manhã. a partitura teve duração de 4 minutos apenas. foi pedido que eles repetissem a partitura quatro vezes seguidas, variando apenas a direção.

ou seja, a primeira vez virada para um lado. a segunda, para outro e assim por diante... até que se completassem quatro apresentações para quatro faces de um quadrado, digamos assim. a idéia era experimentar a mesma partitura vista por ângulos diferentes. o espectador permanece no mesmo lugar, mas a cena se repete variando a posição. um esboço da encenação.

a partitura desenvolvida pelos atores valeu-se de gestos, aproximações e afastamentos, retomaram alguns movimentos feitos em sala de ensaio e acrescentaram novas dinâmicas. ao conversar com um dos professores orientadores, cheguei a alguns lugares que precisam ser vistos:

. pensar no que a repetição pode fazer variar (horror e afeto num mesmo gesto);
. a presença da risada da natássia é um dado muito "chocante" (irônica? feliz?...);
. o trabalho da partitura sob ritmos variados;
. variações de qualidades para um mesmo gesto, ação ou movimento;
. tocar nos extremos para visualizar com clareza as mudanças de um lado a outro;
. oposição movimento/fala (ação física X ação verbal);
. silêncio (sonoro X físico);
. pensar o inverso: primeiro o movimento e depois vai cessando, o corpo d'Ela vai parando, como fosse a falta do movimento o fim da vida...
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# 8

18 de setembro de 2009 - Casa da Natássia - 10h/14h
dan marins e natássia vello.

dinâmicas para criação de uma partitura a ser apresentada no ensaio de sexta (18/09) de 18h30/19h30 na sala 11 da eco/ufrj.

- vocês deverão criar uma partitura da qual os dois façam parte;
- utilizem para isso, ações físicas, gestos e movimentos;
- a partitura deve ter 6 minutos;
- ela é uma fisicalização do trecho número 7 do texto (página 10 - ELE: Quantas vezes te pergunteio... até página 13 - ELE: ... É o meu triunfo);

- fazer 3 referências ao trecho 5/6 (3 referências ao que acontece da página 8 a 10);
- fazer 2 referências ao trecho 3/4 (2 referências ao que acontece da página 4 a 8);
- fazer 1 referência ao trecho 2 do texto (1 referência a alguma coisa que acontece da página 2 a 4);

- vocês devem fazer uma referência à platéia;
- para a construção da partitura, retomem as noções de: horror/afeto; vazio/intensidade; pas-de-deux e sobrevivência/sobrevida.
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# 7

15 de setembro de 2009 - Cantina da UNIRIO - 10h/13h
dan marins, diogo liberano, jéssica baasch e natássia vello.

encontro no qual decupamos o texto de pavlovsky em pequenas unidades. discutimos um pouco sobre o efeito kuleshov e sobre a construção de uma partitura que pudesse ser repetida inúmeras vezes dentro do espetáculo.

fechamos a data das apresentações para os dias 02 e 03 de dezembro de 2009. duas apresentações integrando a AMOSTRA GRÁTIS 2009, sempre às 19h, na quarta e na quinta.

o texto foi dividido em oito partes, em oito capítulos.
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